1 - Em
primeiro lugar, falam em favor da verdade de nossa fé as profecias que foram
escritas nos santos livros muitos séculos antes e que se realizaram à risca
depois. Por exemplo, a morte de Nosso Divino Salvador fora predita por diversos
profetas e descrita exatamente não só quanto ao tempo como também quanto às
circunstâncias que a acompanharam. Fora também profetizado que os judeus, em
castigo de seu deicídio, seriam expulsos de seu templo e pátria e, obstinados
em seu pecado, seriam espalhados no mundo universo; essa profecia vemos
realizada ao pé da letra. Fora profetizado que, depois da morte do Redentor, o
culto dos deuses cederia lugar ao culto do Deus verdadeiro, o que de fato se
deu por meio dos apóstolos, que, não obstante sua falta de instrução e meios
humanos e todos os impedimentos imagináveis, conseguiram conquistar o mundo
para a fé do verdadeiro Deus.
2 - Em
segundo lugar, prova-se a verdade de nossa fé pelos milagres que, para
confirmá-la, operaram a virtude da natureza; só o poder de Deus, ao qual toa a
criação está sujeita, os pode operar. Donde se vê claramente que uma religião
que puder apresentar verdadeiros milagres em confirmação da sua doutrina,
deverá ser divina, pois Deus de forma alguma poderá favorecer uma falsa
religião com a operação de milagres. Nem os judeus, nem os pagãos, nem os
maometanos, nem os hereges poderão nomear um único milagre que tenha sido
operado em favor de sua doutrina.
Para
enganar o povo, recorreram a certas ilusões, que apresentaram como milagre;
porém dentro em pouco tempo se descobriu o engano. Inumeráveis, pelo contrário,
são os milagres que Nosso Senhor operou no decurso dos séculos, por meio de
seus servos, na Igreja Católica. Nela realizou-se a palavra do divino Salvador:
"Aquele que crer em mim, também fará as obras que faço, e outras ainda maiores."
(Jo 14,12).
Não
negamos que nos primeiros séculos do cristianismo houve mais milagres que em
nossos dias; contudo, em tempo algum faltaram milagres na Igreja, porque foram
sempre necessários para a conversão dos pagãos. Assim, S. Francisco Xavier, S.
Luís Bertrand e outros grandes missionários operaram numerosos milagres nas
Índias.
Se
alguém ousasse rejeitar os fatos notáveis que os anais da história eclesiástica
e a biografia dos santos nos relatam, perguntar-lhes-ia por que razão recusa
crer em um S. Basílio,
S. Jerônimo, S. Gregório e tantos outros escritores eclesiásticos, quando dá
inteiro crédito a um Suetônio ou Plínio? De resto aprouve ao Senhor conservar
na Igreja constantemente alguns milagres para mostrar quão fútil é a
incredulidade dos ímpios. Faço aqui menção só do insigne milagre com o sangue
de S. Januário, em
Nápoles. Esse sangue, que geralmente se encontra em estado
sólido, liquefaz-se várias vezes no ano ao se aproximar da cabeça do mesmo
santo, fato de que cada um pode certificar-se com os próprios olhos. Os
incrédulos em vão procuraram uma solução científica ou natural para explicar
este milagre: até hoje não conseguiram dá-la.
3 - Uma
terceira prova da verdade de nossa fé é a fortaleza dos mártires, prova essa
ainda mais brilhante que a dos milagres. Quinze imperadores romanos empregaram
durante muitos anos todas as suas forças para exterminar a religião cristã. Sob
o império de Diocleciano, que declarou a nona perseguição, foram trucidados, em
um só mês, 17 mil cristãos, sem contar os milhares e milhares que foram
desterrados. Segundo o cômputo de Genebrardo, o número dos mártires que
perderam a vida nas dez grandes perseguições, se eleva a 11 milhões, de modo
que, distribuindo-os para cada dia do ano, teremos 30 mil mártires para cada
dia.
Apesar
de martirizarem a estes confessores de Cristo de toda a maneira imaginável,
dilacerando-os com unhas de ferro, queimando-os em grelhas incandescentes,
aplicando tochas ardentes a seus corpos, atormentando-os com outros horrores, o
número dos que estavam prontos a morrer por sua fé, não diminuía, antes crescia
cada vez mais. Tibério, governador da Palestina escreveu ao imperador Trajano
que se ofereciam tantos cristãos ao martírio que era impossível supliciar a
todos. Trajano publicou então um edito que mandava deixar em paz os cristãos.
Agora
pergunto: Se não fosse verdadeira essa fé professada pelos mártires e até hoje
pela Santa Igreja, e se Deus não os tivesse assistido como poderiam suportar
aqueles horrendos tormentos e submeter-se a uma morte tão cruel? - Que
mártires, porém podem apresentar as seitas separadas da Igreja Católica?
Possuem elas talvez um S. Lourenço que, enquanto era assado na grelha,
transbordava de alegria, oferecendo por gracejo ao tirano em pasto seus membros
assados pelo fogo? Possuem talvez um S. Marcos ou Marcelino, cujos pés foram
transpassados com cravos e que responderam ao juiz que os aconselhava a
renunciarem a fé para verem-se livres de tal tormento: Falas em tormento e nós
nunca sentimos tão grande alegria como agora que padecemos por Jesus Cristo!
Possuem talvez um S. Processo ou Martiniano, cujos corpos foram queimados com
chapas de ferro em brasa e dilacerados com pentes de ferro e que, apesar disso,
cantaram sem interrupção os louvores de Deus e exprimiram um desejo ardente de
morrer por Jesus Cristo?
A estes
mártires da antiguidade se associaram como gloriosos êmulos inumeráveis homens
e mulheres dos últimos tempos, que ofereceram sua vida pela fé, entre os mais
horrorosos tormentos que a ferocidade humana podia imaginar. Quantos não
morreram que século XVI, no Japão? Entre os fatos memoráveis da horrenda
perseguição havida nesse país, contam-se os seguintes: Uma mulher, chamada
Mônica, que desejava ardentemente o martírio, exerceu-se dantemão na tolerância
de todas as penas que os carrascos lhe poderiam infligir. Tomou uma vez nas
mãos um ferro em brasa e, ao indagar-lhe a irmã: Mônica, que fazes? respondeu:
Preparo-me para o martírio. Já combati contra a fome, e venci; agora experimento
o fogo, para que possa suportar os tormentos do mesmo se um dia tiver de sofrer
os seus horrores. - Uma outra mulher disse a suas companheiras: Estou
firmemente resolvida a dar a minha vida pela santa fé. Se, porém, me virdes
tremer em presença da morte, arrastai-me então a força diante dos carrascos,
para que possa participar também da vossa coroa. - Um menino chamado Antônio,
respondeu a seus pais, que, com lágrimas, queriam induzi-lo a renunciar a fé:
Deixai de me atormentar com as vossas palavras e queixas, que estou mesmo
resolvido a morrer por amor de Jesus Cristo. E, pendente da cruz, a exemplo de
seu divino mestre, entoou o salmo: Louvai, meninos, o Senhor, cantando-o até ao
Glória Patri, morrendo em seguida, para ir terminá-lo no céu - Um outro menino
disse a seu pai: Prefiro sofrer a morte às mãos do carrasco, e, mesmo por tuas
próprias, que faltar com a obediência a Deus; eu não quero lançar-me no inferno
para agradar aos homens. - Um criado disse a seu senhor: Eu sei quanto vale o
céu, e já que o martírio é o caminho que mais diretamente a ele conduz,
escolho-o com alegria, e faço tão pouco caso de minha vida como do pó que calço
aos pés. - Uma mulher chamada Úrsula, tendo visto morrer mártires seu marido e
dois de seus filhos, exclamou, com lágrimas nos olhos: Agradeço-vos meu Deus,
porque julgastes digna de oferecer-vos este sacrifício. Concedei-me também a
coroa que orna os meus. Agora só tenho esta inocente filhinha que trago nos
braços; eu vô-la ofereço com minha própria pessoa; recebei benignamente este
último sacrifício que vos ofereço. Dizendo isto, apertou a filha ao coração e,
com um só golpe, caíram as cabeças da mãe e da filha. - Uma outra mãe repetia
sem cessar a seu filho, que com ela estava amarrado na cruz: Coragem, meu filho,
estamos no caminho do céu. Repte sempre: Jesus! Maria! - Um fidalgo, de nome
Simeão, exclamou: Que felicidade a minha de poder morrer por meu salvador! Como
mereci eu esta graça! - Uma menina de oito anos, cega apegou-se fortemente às
saias de sua mãe, para poder morrer com ela juntamente na fogueira. - Um
pequeno de cinco anos foi despertado do sono para ser conduzido à morte. Sem
mostrar a mínima inquietação, vestiu a sua melhor roupinha e foi levado pelos
carrascos ao patíbulo. La chegado, ele mesmo ofereceu seu pescoço ao carrasco.
Este, porém, à vista do menino, ficou tão comovido que não pôde desempenhar seu
encargo. Veio um outro, que só depois de vários golpes tirou-lhes o fio da
vida. - Estes fatos todos foram comprovados por inimigos declarados da nossa
Santa Igreja.
4 - Em quarto lugar, a verdade de nossa santa fé é provada, do modo mais evidente, por ter ela permanecido "imutável", desde o tempo dos apóstolos até o presente dia. Os apóstolos e seus sucessores cuidaram seriamente em conservar sempre em toda a sua pureza original a doutrina do divino Salvador. O próprio Senhor recomendou-lhes isso, dizendo: "Ide pelo mundo inteiro e ensinai a todas as gentes... ensinando-as a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado." (Mt 28,19). Por isso S. João admoesta os fiéis: "O que ouvistes desde o princípio permaneça entre vós" (1 Jo 2,24). E o apóstolo S. Judas escreve: "Eu vos rogo instantemente que defendais zelosamente a fé que vos foi uma vez pregada" (Jud 3). Semelhante é o conselho que S. Paulo dá aos Efésios: "Sede solícitos em guardar a unidade do espírito" (Ef 4,3), e aos coríntios: "Rogo-vos... que não haja entre vós cismas, antes sejais perfeitos em um mesmo sentir e em um mesmo julgar" (1 Cor 1,10). Estas admoestações foram seguidas à risca pelos pastores da Igreja em todo o tempo; eles deixaram, como diz S. Agostinho (Cont. Jul. 1,2, c.10), como uma herança a seus filhos o que seus pais lhe comunicaram e e conservaram o que encontraram na Igreja.
Por isso a Igreja Católica permaneceu a mesma em todos os tempos; a doutrina que ela hoje prega, como a presença de Jesus no SS. Sacramento, a invocação dos Santos, a veneração das relíquias, a existência do purgatório, é a mesma que foi criada nos primeiros tempos de sua existência.
As diversas seitas, porém, que se separaram da Igreja Católica, nunca permaneceram firmes em suas doutrinas. Leia-se por exemplo, a história das variações que se deram nas igrejas protestantes, escrita por Bossuet. O mesmo orgulho que levou o fundador dessas seitas a negar a obediência à Igreja Verdadeira, desviou delas seus próprios adeptos e criou novos sistemas. Por esta razão de suma importância para nós termos diante dos olhos a história das heresias. Essa consideração nos apresenta a nossa fé na mais esplêndida luz, visto que ela permaneceu em todos os tempos a mesma e imutável e alimenta em nós o espírito de submissão à Santa Igreja, estimulando-nos também a agradecer a Deus ter-nos feito nascer na religião católica.
Fonte: Escola da Perfeição Cristã - do doutor da Igreja Santo Afonso Maria de Ligório.
4 - Em quarto lugar, a verdade de nossa santa fé é provada, do modo mais evidente, por ter ela permanecido "imutável", desde o tempo dos apóstolos até o presente dia. Os apóstolos e seus sucessores cuidaram seriamente em conservar sempre em toda a sua pureza original a doutrina do divino Salvador. O próprio Senhor recomendou-lhes isso, dizendo: "Ide pelo mundo inteiro e ensinai a todas as gentes... ensinando-as a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado." (Mt 28,19). Por isso S. João admoesta os fiéis: "O que ouvistes desde o princípio permaneça entre vós" (1 Jo 2,24). E o apóstolo S. Judas escreve: "Eu vos rogo instantemente que defendais zelosamente a fé que vos foi uma vez pregada" (Jud 3). Semelhante é o conselho que S. Paulo dá aos Efésios: "Sede solícitos em guardar a unidade do espírito" (Ef 4,3), e aos coríntios: "Rogo-vos... que não haja entre vós cismas, antes sejais perfeitos em um mesmo sentir e em um mesmo julgar" (1 Cor 1,10). Estas admoestações foram seguidas à risca pelos pastores da Igreja em todo o tempo; eles deixaram, como diz S. Agostinho (Cont. Jul. 1,2, c.10), como uma herança a seus filhos o que seus pais lhe comunicaram e e conservaram o que encontraram na Igreja.
Por isso a Igreja Católica permaneceu a mesma em todos os tempos; a doutrina que ela hoje prega, como a presença de Jesus no SS. Sacramento, a invocação dos Santos, a veneração das relíquias, a existência do purgatório, é a mesma que foi criada nos primeiros tempos de sua existência.
As diversas seitas, porém, que se separaram da Igreja Católica, nunca permaneceram firmes em suas doutrinas. Leia-se por exemplo, a história das variações que se deram nas igrejas protestantes, escrita por Bossuet. O mesmo orgulho que levou o fundador dessas seitas a negar a obediência à Igreja Verdadeira, desviou delas seus próprios adeptos e criou novos sistemas. Por esta razão de suma importância para nós termos diante dos olhos a história das heresias. Essa consideração nos apresenta a nossa fé na mais esplêndida luz, visto que ela permaneceu em todos os tempos a mesma e imutável e alimenta em nós o espírito de submissão à Santa Igreja, estimulando-nos também a agradecer a Deus ter-nos feito nascer na religião católica.
Fonte: Escola da Perfeição Cristã - do doutor da Igreja Santo Afonso Maria de Ligório.
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