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sábado, 25 de fevereiro de 2017

A cega e injusta propaganda anti-sedevacantista (parte 2 de 2)


Continuação do artigo “A cega e injusta propaganda anti-sedevacantista”.

“Verdadeiro ou falso papa?”


Esse é o título de um livro inteiro escrito por dois leigos da FSSPX nos EUA, com a benção de Dom Fellay, para difamar o sedevacantismo. Já devidamente refutado pelo Pe. Cekada (pode-se ativar as legendas em português):


Para conhecer a refutação feita pela padre, convido o leitor a assistir o vídeo. Mas há um ponto eu quero destacar, que é a falsificação do texto do Pe. Cekada feita pelos autores do livro. O padre cita várias vezes a heresia pública, mas os autores transcrevem por heresia privada. E fazem isto todas as vezes em que o referido termo aparece. Erros podem acontecer, claro. Mas “errar” várias vezes a transcrição de um termo que altera todo o sentido daquilo que o outro disse, não dá para entender senão como má fé, como vontade deliberada de enganar. Prestem atenção no vídeo e se questionem se há ou não uma sórdida propaganda anti-sedevacantista.

Outro argumento muito interessante apresentado pelo Pe. Cekada é que os “papas” conciliares já eram hereges antes da suposta eleição ao papado. Ou seja, não precisamos tratar da perda do ofício papal, porque eles já eram inelegíveis antes de receberem tal ofício. Isto o livro da FSSPX nem sequer menciona.


Dom Williamson


Ao se tratar de anti-sedevacantismo, não poderia ficar de fora o bispo Williamson. Desfazer os sofismas desse bispo é uma tarefa que demanda tempo e paciência, tamanhas são as confusões de pensamento que ele cria. No presente artigo, vamos nos limitar a destacar e comentar brevemente suas palavras denegrindo o sedevacantismo contidas em apenas dois Comentários Eleison: o CE 481, de 1º de outubro de 2016, e o CE 482, de 8 de outubro de 2016. Comecemos citando o primeiro deles:

(…) No entanto, há certo número de almas católicas atraídas pela graça de Deus para longe do liberalismo em sentido à tradição católica para a qual o sedevacantismo torna-se positivamente perigoso. O diabo não se importa se nós perdemos o equilíbrio para a direita ou para a esquerda, desde que percamos nosso equilíbrio.

Dom Williamson não somente qualifica o sedevacantismo como perigoso, mas até mesmo associa ao diabo o “desequilíbrio” sedevacantista.

Prosseguindo com sua obra de doutrinação, ele repete a afirmação gratuita de que o sedevacantismo fecha as mentes:

(…) na prática, quantas vezes se observa que com o sedevacantismo as mentes se fecham, (…)

Reposta: Na realidade, eles não são papas, absolutamente. “Oh, que alívio! Já não preciso ficar angustiado.” A mente fecha-se, o sedevacantismo deve ser pregado como se fosse o Evangelho para quem quiser ouvir (ou não ouvir), e na pior das hipóteses, ele pode ser estendido desde os papas até todos os cardeais, bispos e sacerdotes, de modo que um católico outrora crente se transforma num “home-aloner”, que desiste totalmente de ir à missa. Será que ele terá sucesso em manter a fé? E seus filhos? Aqui reside o perigo.

Por que Dom Williamson diz que o sedevacantista seria “um católico outrora crente“? Está contida aí a falsa acusação de que um sedevacantista perde a fé. A pergunta sofista que se segue confirma a acusação. Na realidade, quem coloca a fé em risco é aquele que permanece na seita conciliar, assistindo missa nova, ouvindo sermões cheios de erros contra a Fé, presenciando em silêncio sucessivos escândalos.

Também está implícita nesse parágrafo outra acusação: a de que o sedevacantismo seria um desequilibrio emocional. Quem o abraça, estaria apenas buscando um alívio. Alguns comentários eleison do início de 2014 trazem essa acusação no próprio título: “ansiedade sedevacantista”.

Os dois parágrafos a seguir, ambos contindos no Comentário Eleison 482, contém as mesmas duas acusações anteriores, a primeira de que o sedevacantismo faz perder a Fé e a outra que se trata de um desequilíbrio emocional:

Para qualquer alma católica que hoje compreende a gravidade da crise na Igreja e se aflige em relação a isto, a simplicidade do sedevacantismo, que rejeita como inválidos a Igreja e os papas do Vaticano II, pode tornar-se uma séria tentação. Pior, a aparente lógica dos argumentos dos eclesiavacantistas e dos sedevacantistas podem tornar esta tentação uma armadilha mental que pode, na pior das hipóteses, levar um católico a perder a sua fé completamente.

Quanto à premissa maior, os sedevacantistas frequentemente exageram a infalibilidade da Igreja, assim como frequentemente exageram a infalibilidade do papa, porque é isto que precisam para suportar seu horror emocional em relação ao que se tornou a Igreja Católica a partir do Concílio.

Mais adiante no CE 482, Dom Williamson utiliza também o sofisma constantemente repetido pelos que combatem o sedevacantismo, de que houve papas que comenteram grandes erros:

Mas, na realidade, assim como aquela infalibilidade não exclui grandes erros de alguns papas na história da Igreja (…)

Ora, os papas que erraram no passado o fizeram como seres humanos, pecadores como somos todos nós. Porém, o que Dom Williamson não faz, como não o fazem os demais anti-sedevacantistas, é diferenciar os erros prudenciais e os pecados pessoais dos papas do passado dos graves erros contra a fé cometidos pelos anti-papas conciliares. Jamais na história da Igreja se viu um verdadeiro papa cometer um erro contra a Fé no exercício de seu magistério. Essa distinção não é de pouco valor, senão que é essencial para se entender o assunto. Para atacar o sedevacantismo, Dom Williamson não se importa em atropelar essa distinção.

Para encerrar seu CE 482 como mais uma manobra de desinformação, ele tenta novamente comparar os sedevacantistas aos liberais:

Como liberais, os sedevacantistas estão pensando humanamente, todos humanamente demais.

Podemos ver que a repetição de frases feitas é uma especialidade de Dom Williamson.

Isso basta para mostrar a visão negativa do sedevacantismo que esse bispo tanto se empenha em transmitir. Teremos a oportunidade de desfazer, um a um, os sofismas dele, não somente relativos ao sedevacantismo mas também a outros temas.

Carlos Nougué


Carlos Nougué é outro autor que escreve contra o sedevacantismo. Nos anos de 2008 e 2009 ele escreveu uma série de artigos intitulados “Sedevacantismo, ou uma conclusão a procura de premissas“. Como o próprio título diz, ele acusa o sedevacantismo de ser uma conclusão a priori, sem fundamentos na realidade. Logo no início do primeiro artigo ele já o chama de “pensamento mágico”. O desejo de combater o sedevacantismo fica explícito logo no primeiro parágrafo quando ele diz que “nos preocupa muito a simpatia que vem despertando o sedevacantismo” e o qualifica como “pernicioso”. Ao longo dos artigos que ele chegou a escrever, ele acusa várias vezes os sedevacantistas de estarem desconectados da realidade, de serem desonestos ao ponto de criarem premissas a fim de justificar a conclusão de que eles haviam previamente tomado como verdadeira.

No segundo parágrafo do primeiro artigo ele disse que a série era bem longa. No entanto, ela parou repentinamente no sexto artigo, antes de realmente provar qualquer coisa que o autor dizia. No final do sexto artigo, ele reconhece que seu trabalho ainda não estava terminado, colocando no futuro a refutação ao sedevacantismo:

> A conclusão desta tese será refutada aqui na medida mesma em que se diferencia da dos demais tipos de sedevacantismo, ou seja, no afirmar uma sedevacância apenas formal. Mas, na medida em que compartilha com os demais tipos o caráter geral do sedevacantismo, só será refutada ao final do exame do conjunto deles.

> Após aquelas refutações da Tese de Cassiciacum, responder-se-á particularmente a cada item numerado de sua exposição, e então se mostrará a quantidade impressionante de suas imprecisões e obscuridades filosóficas e o uso impróprio que faz não só de Santo Tomás de Aquino, mas também de São Roberto Bellarmino, Suárez, etc.
(Continua.)

Incrível! Ao longo de seis artigos ele acusou várias vezes os sedevacantistas de terem uma conclusão sem terem as premissas, de imprecisões e obscuridades filosóficas, de usar de maneira imprópria os teólogos, etc. Chamou o pensamento deles de “mágico”. Falou, falou, falou, mas não provou nada. No final do sexto artigo disse que ainda iria fazê-lo. Isso foi no ano de 2009. Passaram-se os anos e até agora o trabalho está sem conclusão.

É muito fácil entender que ele caiu exatamente no erro do qual ele acusava os sedevacantistas, ou seja, de ter uma conclusão sem ter as premissas. Isso é absolutamente inegável. Se ele tivesse os argumentos contra o sedevacantismo, era fácil tê-los exposto naquela ocasião. Teria feito o bem (na visão dele) de refutar algo que ele considera pernicioso para a Igreja, e não teria passado a épica vergonha de cometer o erro que ele mesmo tentava denunciar. Os seguidores dele vão me odiar, mas esta é simplesmente a conclusão lógica que extraímos dos fatos. Depois de chamar todos os holofotes para cima daqueles que têm ideias pré-concebidas, a única coisa que se poderia esperar dele é que provasse as acusações que fazia contra os sedevacantistas, sob pena de ficar provado, como de fato ficou, que suas ideias anti-sedecavantistas é que eram pré-concebidas. Esse é um dos mais emblemáticos casos de vergonha alheia que eu já vi na minha vida.

Independente do fracasso do texto, será que não existem mesmo as premissas do Sedevacantismo? O Sr. Araí Daniele nos mostra quais são as premissas:

Como hoje pouco se lembra e menos se entende a verdadeira questão, vamos repetir aqui o texto do irmão Tomás do Mosteiro da Santa Cruz:

“A questão do sedevacantismo foi levantada por muitos, e Dom Lefebvre, ele mesmo, se perguntou como era possível que um Papa presidisse à destruição da Igreja. “Pois, enfim, um grave problema se impõe à consciência e à fé de todos os católicos desde o pontificado de Paulo VI, dizia Dom Lefebvre numa entrevista concedida ao jornal Figaro em agosto de 1976. Como um Papa, verdadeiro sucessor de Pedro, ao qual não falta a assistência do Espírito Santo, pode presidir à destruição da Igreja, a mais profunda e a mais extensa de toda a sua história, num espaço de tempo tão curto, coisa que nenhum heresiarca jamais conseguiu fazer?”. “Temos verdadeiramente um Papa ou um intruso sentado sobre o trono de Pedro? Bem-aventurados aqueles que viveram e morreram sem ter que formular uma tal questão”.

A grave questão (premissa) é esta e não de nenhuma magia na história que, se existe, é de certo suscitada pelo Inimigo de Deus e dos homens: trata-se da identificação, pura e simples, do clérigo eleito papa por um conclave como absoluto detentor da representação de Deus em terra; como inegável Vigário que recebeu imediatamente de Cristo esse poder, mesmo se de fé iluminista, modernista e pragmatista, para alterar a Fé.


Confesso que na época eu não li este artigo, como também não lia os sites sedevacantistas em geral. Foi só aos poucos que fui perdendo o medo inculcado pelos tradicionalistas de linha média. E é por isso que tento agora abrir os olhos daqueles que estão enfeitiçados pela propaganda.

Vale a pena ler o artigo do Sr. Araí Daniele. Ele foi muito certeiro ao descrever que Nougué “tentar avacalhar com tiradas eruditas a resistência católica real do resto fiel” e que é “Incrível como se pode usar tantas palavras sem ligar isto ao contexto do discurso: o «sedevacantismo» de que fala.” Foi exatamente isso que Nougué fez: com uma linguagem aparentemente filosófica, ele acusou, avacalhou, criou uma imagem terrível dos sedevacantistas e… no final, não provou absolutamente nada do que disse.

Acontece que, vários anos depois de ter escrito os artigos inacabados, o mesmo autor retomou o assunto com alguns artigos e também dois vídeos intitulados “O papa herético”. Será que desta vez ele realmente refutou o sedevacantismo? Veremos que não. Coloco abaixo os dois vídeos. Se o leitor preferir, pode ler primeiro os comentários que eu faço abaixo e depois ver no vídeo os tempos correspondentes anotados no meu texto. Ah, eu salvei os vídeos, para não acontecer como no caso do vídeo de Dom Tomás de Aquino que admitiu a imprudência de Dom Williamson e depois foi apagado.



O que temos? Temos um homem que se intitula como filósofo, apresentando-se como professor e chamando a estes mesmos vídeos de “aula”, escrevendo em um artigo que conhece sobejamente os argumentos sedevacantistas. Tudo isso faz com que ele construa uma imagem de autoridade no assunto. E é detrás desta imagem de autoridade que ele profere sentenças que, longe de serem a desinteressada busca pela verdade que deve mover os filófosos, são antes de tudo um partidarismo inacreditável. Mais sutil que os demais, Nougué não chega, nos vídeos, aos cúmulos do xingamento ou da difamação aberta como os que mostramos anteriormente. Mas nem por isso deixa de passar uma visão negativa e errada do sedevacantismo.

Ao invés de tratar apenas os argumentos, ele enaltece aqueles autores com os quais concorda, e denegre aqueles dos quais discorda. Para isto utiliza dois artifícios. Primeiro, tentar fazer seus alunos acreditarem que a lista dos teólogos que estão contra o sedevacantismo é muito grande, enquanto que os teólogos a favor se reduziriam a, principalmente, dois. Depois, elogia os contrários ao sedevacantismo com belos adjetivos, enquanto qualifica de imprudente o maior defensor da tese da perda imediata do pontificado em caso de heresia pública.

Vejamos primeiro o que ele fala dos sedevacantistas:

“O sedevacantismo se funda em dois doutores – Francisco Suarez [sic] e São Roberto Belarmino” (“O papa herético”, segundo vídeo, 2:50)

“Esta é a tese conhecido como perda ipso facto do mandato de papa de Belarmino e Suarez [sic].” (“O papa herético”, segundo vídeo, 5:00)

“tese imprudente de Belarmino” (“O papa herético”, segundo vídeo, 15:25)

Ele tenta desqualificar ninguém menos que São Roberto Bellarmino, santo e doutor da Igreja, defensor do Catolicismo contra a terrível ameça do protestantismo, teólogo renomado que estudou a fundo o problema da queda por heresia e escreveu um livro inteiro sobre o Romano Pontífice. Ironicamente, o homem que chamou de imprudente a esse grande teólogo defende com unhas e dentes o bispo Williamson, este sim um grande imprudente que comete vários escândalos e nunca busca se redimir.

Além disso, o sedevacantismo não se funda apenas sobre dois autores. Veremos isto mais adiante. Antes vamos ver os elogios que Nougué faz aos que se opõem ao sedevacantismo, que ele mostra como membros de um enorme e egrégio conjunto de teólogos (os destaques são meus):

“primeiro o livro estupendo ‘A candeia debaixo do alqueire’ do padre Álvaro Calderón… é um tesouro“. (“O papa herético”, primeiro vídeo, 7:55)

E continua pouco depois: “conjunto impressionante de tomistas e não tomistas, cardeal Cajetano, Báñez, João de santo Tomás, Carmelitas de Salamanca – Salmaticenses, Billuart, Santo Afonso Maria de Ligório, Garrigou-Lagrange”.

“Esta é a tese conhecida como perda ipso facto do mandato de papa de Belarmino e Suarez [sic]. É contra ela que opõe esta longa sequência de grandes doutores… cardeal Caietano, João de Santo Tomás, Báñez, Carmelo de Salamanca, Billuart, Santo Afonso Maria de Ligório, Garrigou Lagrange, impressionante, eles se opõem.” (“O papa herético”, segundo vídeo, 5:00)

Neste assunto, este conjunto impressionante de autores, de grandes autores, de grandes autores, todos eles estão muito mais corretos que o nosso cardeal Belarmino e que Suarez [sic].” (“O papa herético”, segundo vídeo, 7:15)

“(…) Para Bellarmino o papa perderia ipso facto o mandato. É o que esta longa série de doutores, ou melhor, de teólogos, nega. Não há incompatibilidade total entre heresia e jurisdição.”

Enfim, podemos perceber como ele elogia ou denigre os teólogos conforme estejam contra ou a favor do sedevacantismo. Uma atitude nada teológica, nada filosófica, nada imparcial, e que não pode ser qualificada senão como infantil. Parece um torcedor de futebol falando do seu time e do time adversário.

Mas, além do partidarismo, existe outro erro de Nougué, decorrente daquele, que é a superficialidade. Ele sequer citou corretamente a lista de autores a favor ou contra o sedevacantismo. Consultando uma obra séria sobre o assunto, tal como a do Prof. Arnaldo Xavier da Silveira, que realmente analisa o problema ao invés de fazer propaganda superficial, podemos obter a seguinte lista de autores:

Perda ipso facto do mandato pontifício em caso de heresia pública: São Roberto Belarmino, Sylvius, Pietro Ballerini, Wernz-Vidal, Cardeal Billot
Perda do mandato pontifício apenas após declaração solene: Caietano e Suarez

Comparem com a lista fornecida, mais de uma vez, por Nougué: há uma divergência, sendo Suarez colocado como defensor da tese contrária àquela que lhe atribuía Nougué. Se Nougué tivesse se dado ao trabalho de estudar o assunto, jamais confundiria a opinião de Suarez. Isso mostra o quão superficial é o seu conhecimento do assunto e o quanto ele defende seu ponto de vista de maneira passional e não racional. Os dominicanos de Avrillé, que concordam com a tese de Nougué, também citam corretamente Suarez como contrário à perda ipso facto do pontificado. Ou seja, Nougué não leu nem a obra de quem está junto com ele defendendo Dom Williamson. Ou, se o fez, foi muito superficialmente.

Sobre a “longa lista” por ele apresentada, há de se excluir também os padres Billuart e Garrigou-Lagrange, pois suas citações foram adulteradas, conforme o tópico tratando dos dominicanos de Avrillé, na primeira parte deste artigo.
Mas, ainda não contente, Nougué continua tentando desqualificar os sedevacantistas com outros pseudo-argumentos:

“Os sedevacantistas não querem reconhecer que São Roberto Belarmino considera, como tese principal, que um papa não pode cair em heresia. Ele não acredita que Honório tenha sido anamatizado.” (“O papa herético”, segundo vídeo, 3:40)

“Primeiro, negar que um papa possa cair em heresia é negar uma evidência, e é o que faz Bellarmino depois do que aconteceu com Honório I, pelo menos. Se ele vivesse hoje… pois bem.” (“O papa herético”, segundo vídeo, 7:15)

O caso de Honório I não é uma evidência. Pelo contrário é o mais complexo de todos. Os outros “papas hereges” que teriam existido na história da Igreja, segundo a errônea concepção dos que reduzem a infalibilidade papal aos casos extremos das definições dogmáticas, não eram realmente hereges, ou porque as acusações contra eles foram falsificadas, ou porque a matéria não estava definida como sendo de fé, etc. Não vamos nos estender sobre este assunto aqui para não perder o foco deste artigo, que já está demasiado longo. Teremos oportunidade para indicar os artigos já publicados em outros blogs sedevacantistas. No momento queremos apenas que o leitor perca o medo de acessar tais blogs.

No caso dos “papas” do Vaticano II, todos eles já eram hereges antes da suposta eleição. Ou seja, eles não se enquadram no caso de verdadeiros papas que teriam caído em heresia, senão que nunca tiveram legitimidade alguma, porque já eram inelegíveis antes da eleição.

Não tem razão, portanto, Nougué ao tentar desqualificar São Roberto Bellarmino. E, mesmo verificando que não é verdadeira sua primeira tese, ou seja, a de que um papa não possa cair em heresia, passa-se facilmente à segunda, ou seja, a de que ele perde ipso facto o pontificado quando a heresia se torna pública. Simples, fácil, sem traumas. Então, qual o sentido da frase de Nougué, “Os sedevacantistas não querem reconhecer que São Roberto Belarmino considera, como tese principal, que um papa não pode cair em heresia.”? Não passa de mais uma tentativa de desqualificar o adversário.

Passemos a outro tópico. Sobre a definição da infalibilidade papal, Nougué também comete um erro de lógica elementar.

A partir dos 16 minutos do primeiro vídeo, quando ele começa a falar em “distinguir as diversas faces do magistério”, ele faz a pergunta “segundo o decreto do mesmo concílio [Vaticano I] o papa é infalível sempre ou só algumas vezes? Pois bem, lerei as palavras do próprio concílio para que não restem dúvidas”. Ele realmente lê de forma correta o que diz o decreto Pastor Aeternus em seu capítulo IV: “o pontífice romano, quando fala ex-cátedera, isto é, quando 1) cumprindo seu cargo de pastor e doutor de todos os cristãos, todos, 2) define, por sua suprema autoridade apostólica que 4) uma doutrina sobre fé e costumes 3) deve ser sustentada pela Igreja universal, pela assistência divina que lhe foi prometida na pessoa do bem-aventurado Pedro goza daquela infalibilidade de que o Redentor divino quis que Sua Igreja fosse provida na definição da doutrina sobre a fé e os costumes.”

A forma como ele apresentou as palavras do concílio está correta. O problema é que, na hora em que ele vai tirar as conclusões, ele inverte tudo. Isto acontece a partir dos 18 min 20 s do primeiro vídeo, onde ele afirma que o papa é infalível quando usa as quatro condições, até o ponto em que triunfalmente conclui com ênfase na última palavra, dita sílaba a sílaba: “só assim, quando se cumprem cumprem essas quatros condições, as chamadas quatro condições vaticanas, é que o papa é in-fa-lí-vel” (“O papa herético”, primeiro vídeo, 19:15).

Conseguiu o caro leitor perceber a inversão feita por Nougué? Pois é uma questão de lógica. O texto do concílio diz que “quando o papa usa as quatro condições vaticanas, ele é infalível”. Já Nougué inverteu para “o papa é infalível quando usa as quatro condições vaticanas”. A diferença pode parecer sutil, mas o significado muda completamente.

Em termos de lógica, as proposições ficam

Concílio do Vaticano: o papa usa as quatro condições vaticanas -> o papa é infalível

Nougué: o papa é infalível -> o papa usa as quatro condições vaticanas

Para significar o que Nougué quer, o Concílio do Vaticano deveria ter dito “O papa é infalível quando usa as quatro condições vaticanas.” e não “Quando usa as quatro condições vaticanas, o papa é infalível.”, tal como está escrito.

Em outro artigo, Nougué afirma que qualquer bom manual de lógica confirma o que ele diz sobre a infalibilidade papal (o destaque é meu):

Mas dizê-lo implica dizer também – como determina qualquer bom manual de lógica – que os papas, se não cumprem tais quatro condições, não alcançam a infalibilidade em alguma declaração. (Linha média versus sedevacantismo, ou quando os extremos se tocam, http://www.estudostomistas.com.br/2016/11/linha-media-versus-sedevacantismo-ou.html)

Vamos mostrar um exemplo mais simples para depois voltar ao da infalibilidade papal. A proposição condicional “Se chove, então Pedro não vai à praia”, não é equivalente a “Se Pedro não vai à praia, então chove”. Qualquer manual de lógica ensina que não se pode simplesmente inverter os termos de uma proposição condicional, porque a proposição resultante não é equivalente à primeira.

A tabela verdade fica assim:

Chove (P) Pedro não vai à praia (Q) P -> Q  Q -> P 
VVVV
FVVF
FFVV
VFFV

Vemos claramente que a tabela verdade de uma proposição é diferente da outra. Logo, elas não são equivalentes.

Até na Wikipedia conseguimos encontrar a explicação para estes princípios de lógica:


Até uma enciclopédia, que por isso mesmo é generalista e não especialista, mostra a incoerência das conclusões tiradas por Nougué a partir dos textos do Concílio do Vaticano. Qual seria o “bom manual de lógica” que ensinaria aquilo que Nougué afirma? Claro, nenhum. Por isso ele nem citou títulos e muito menos o conteúdo de tais manuais, porque a lógica estabelece o contrário daquilo que ele afirmou.

O texto do concílio apresenta uma condição suficiente para a infalibilidade papal, mas Nougué a apresentou como necessária. Ele não se deu ao trabalho de diferenciar condição suficiente e condição necessária, que é algo elementar da lógica, fazendo o concílio dizer algo que simplesmente não disse. As palavras “se e somente” existem na fala de Nougué, mas não no texto do Concílio. Concluímos que, muito embora ele tenha feito uma citação literal do concílio, na hora de apresentar sua tese ele inverteu as palavras e modificou o sentido, de forma que ele não tem razão nenhuma em utilizar o Concílio do Vaticano para sustentar suas ideias.

Talvez consciente de fraqueza de sua argumentação, ele tentou acrescentar que “um grupo de bispos escreveu a Pio IX perguntando se a infalibilidade se cingia àquelas condições. A resposta é positiva.” (“O papa herético”, primeiro vídeo, 20:10).

Primeiro, seria interessante ele citar as fontes do que disse. Mas, mesmo admitindo que o fato fosse verídico, como ele pode ter certeza de que a resposta positiva de Pio IX é correta se ele somente crê na infalibilidade daquilo que o papa decreta solenemente? Quem lhe garante, segundo sua própria interpretação da infalibilidade papal, que o papa não poderia estar errado nesta resposta? Se ele admite que possa haver erros graves contra a fé até mesmo em documentos do magistério dos “papas” conciliares, como poderia ter certeza que Pio IX não estaria equivocado ao responder uma simples carta?

Tanto não é verdade que a infalibilidade se restringe somente aos casos raros de definições dogmáticas, que o próprio Nougué o admite poucos minutos depois no mesmíssimo vídeo. No caso do magistério ordinário, este se tornaria infalível pela repetição no tempo ou no espaço:

Magistério ordinário infalível: São Pio X – restaurar tudo em Cristo – diz várias vezes. Pode se dar com vários papas. Santo Tomás é o doutor comum da Igreja. (“O papa herético”, primeiro vídeo, 24:50)

No espaço vários bispos e o papa repetindo a mesma coisa tornam este ponto de magistério infalível (“O papa herético”, primeiro vídeo, 27:40).

Ora, se existe esta outra forma de magistério infalível, como ele mesmo admite, então não se pode dizer que somente as declarações dogmáticas segundo as quatro condições vaticanas é que são infalíveis. Isto o princípio de não-contradição impede que o façamos. A afirmação, atribuída por Nougué ao papa Pio IX, de que a infalibilidade se cingia àquelas condições não pode ser verdadeira. Nougué só precisou de cinco minutos para contradizer a afirmação dita por ele mesmo, com toda ênfase, de que somente dentro das quatro condições vaticanas é que o papa é “in-fa-lí-vel”.

Temos ainda mais uma contradição. Pois o suposto magistério dos “papas” conciliares e dos bispos modernistas estaria enquadrado nesta categoria de magistério infalível. Ao longo do tempo, e no mundo todo, eles ensinam os erros do Vaticano II como se fossem verdadeiro magistério da Igreja. Se esses prelados fossem legítimos, pelo mesmo critério acima deveríamos dizer que se trata de Magistério Ordinário Infalível. Mas nenhum católico ousaria dizer isso, pois estão em contradição com o Magistério de dois mil anos da Igreja. De onde se vê que não há como fugir da conclusão que se tratam de falsos prelados.

Além de tudo, se pudesse haver erros no legítimo magistério da Igreja, ainda que fosse o Ordinário, então este não poderia ser o critério imediato da Fé. O fiel, que devendo interpretar este magistério e conferir se está de acordo com o depósito da Fé, é que ocuparia o lugar do Magistério como critério último da verdade religiosa. No protestantismo, o crente interpreta a bíblia por si só. No sedeplenismo, o crente interpreta o Magistério da Igreja e confirma se ele está ou não correto. Tanto em um como em outro, o fiel é que acaba sendo a regra última da fé. Ao contrário de salvar a Igreja e o papado, o sedeplenismo, ao dizer que pode haver erro no magistério legítimo da Igreja, destrói a regra de Fé.

Passemos adiante. Nougué ainda se propõe a refutar mais um argumento sedevacanstista, desta vez a respeito do Código de Direito Canônico de 1917 (“O papa herético”, segundo vídeo, 24:00). Para isto, ele afirma que os sedevacantistas se baseiam no Canon 2314, no qual está estabelecido que o herético incorre ipso facto em excomunhão. O erro dos sedevacanstistas seria, segundo Nougué, que a excomunhão dita ipso facto somente ocorreria após duas advertências, nas quais a autoridade eclesiástica competente iria se certificar de que o acusado é um herege formal, tal como está escrito mais adiante no próprio CIC 1917. Não existindo nenhuma autoridade acima do Papa, que seria capaz de conduzir um processo contra o Sumo Pontífice, este jamais poderia ser declarado excomungado. Até parece boa a argumentação de Nougué, mas não é.

E não é boa porque ele atribui aos sedevacantistas o argumento que eles não defendem. Existe outro cânon do Código de Direito Canônico de 1917 que é muito claro:

Canon 188 do CIC 1917: “Há certas causas as quais efetuam a tácita (silenciosa) demissão de um posto, cuja demissão é aceita antecipadamente pela operação da lei, e, por conseguinte, são efetivas sem qualquer declaração. Essas causas são… (§4) se ele publicamente desertou da fé.

Para refutar alguém, é necessário apresentar sua correta argumentação, o que não se verificou neste caso. Isso o próprio Nougué reconhece, como escreveu na letra “b” da últimas palavras de seu primeiro artigo da série “Sedevacanstimo, ou uma conclusão em busca de premissas”. Já vimos que ele não sabia sequer a posição de Suarez, ao qual criticou sem saber que concordava com ele. Agora ele critica os sedevacantistas sem expor corretamente o que eles dizem. Os sedevacantistas seriam, segundo o que ele expõe, pessoas que citam apenas a parte que lhes interessa do texto, recortando a parte logo em seguida que não lhe interessa. O que ele diz apenas reforça a injusta propaganda contra o sedevacantismo.

É fácil perceber a diferença entre os dois cânones por meio de uma analogia. O citado por Nougué se refere à maior pena eclesiástica, que é a excomunhão. Para efeitos de comparação, é como se fosse, na justiça temporal, condenar uma pessoa à morte. A justiça deve se cercar de todos os cuidados para não cometer um julgamento injusto. Já no cânon 188, trata-se de demissão de um posto. Ora, quem exerce um posto na hierarquia possui poder, e a permanência de um herege em uma situação desta causa grandes estragos às almas. É razoável que as leis da Igreja sejam mais rígidas neste caso. Mesmo antes do processo que pode resultar na excomunhão, o herege, que assim publicamente desertou da fé, já não está mais habilitado a permanecer em um posto na hierarquia da Igreja. Retomando a analogia com a justiça secular, um homem poderia cometer um crime pelo qual não seria condenado à morte, ou poderia ser condenado mas ainda não foi julgado. Mesmo não tendo ele sido condenado à morte, a gravidade do crime poderia impedir que ele ocupasse um cargo, por exemplo, na polícia. Afinal, polícia nenhuma no mundo permitiria que um ladrão contumaz passasse no exame de antecedentes criminais, mesmo que seus crimes não fossem puníveis com a pena de morte. Por que a Igreja Católica, instituição divina, deveria manter em seus postos, inclusive no papado, aqueles que buscam destruir seu mais precioso fundamento, que é a Fé? Mesmo antes de ser formalmente declarado herege, quem publicamente desertou da Fé e a combate já está deposto, sem necessidade de declaração, de qualquer posto que estivesse ocupando na hierarquia da Igreja.

Como vimos, os erros são inúmeros. Mesmo assim, Nougué se auto-apresenta como grande conhecedor do assunto:

“o remetente do e-mail dá-me links para um texto sedevacantista e para a bula Cum ex Apostolatus Officio (1559), do Papa Paulo IV – como se eu não conhecesse sobejamente esta* ou os argumentos sedevacantistas.
Fonte: http://www.estudostomistas.com.br/2016/10/resposta-breve-certos-sedevacantistas.html

Ele não conhece sequer os autores que concordam ou discordam do que ele está dizendo, como Suarez, mas se auto-afirma como grande conhecedor dos argumentos sedevacantistas.

Nougué não pode reclamar de falta de tempo para estudar, pois faz anos que já se declarava capaz de condenar o sedevacantismo. A sua predeterminação em não mudar sua opinião formada anos atrás, quando ele não tinha os argumentos prontos, fica explícita quando ele diz literalmente que “vou morrer lutando, defendendo este ângulo que exporei aqui” (“O papa herético”, primeiro vídeo, 6:15). E com isso continua criando a caricatura do sedevacantismo para depreciá-lo.

Conclusão


Acredito que os casos apresentados já sejam suficientes para mostrar que há uma ferrenha propaganda anti-sedevacantista. Pela argumentação apresentada, acredito também que já se tenha mostrado que ela é injusta.

Essa propaganda inclui um grande repertório: omissões, acréscimos, citações erradas, elogios e críticas, sofismas e, em alguns casos, até mesmo difamação e ofensas gratuitas. O resultado é que as pessoas ficam com medo do sedevantismo e não param sequer para ouvir o que os sedevacantistas têm a dizer.

Para deixar bem claro, é bom dizer novamente que este artigo não tem a mínima pretensão de ser uma refutação completa às críticas anti-sedevacantistas. Aliás, nenhum dos artigos ou vídeos citados está completamente refutado, porque não é este o nosso objetivo neste primeiro momento. O único objetivo, como já dito anteriormente, é bem mais modesto: é apenas quebrar o bloqueio mental que há anos vem sendo construído contra o sedevacantismo. Se conseguirmos fazer com que as pessoas percam este medo irracional que lhes foi inculcado, então este artigo terá alcançado plenamente seu objetivo.



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