Maria Santíssima é Mãe de Deus. Dignidade que, diz Santo Tomás de Aquino, atinge as raias do infinito. Predestinada, desde toda a Eternidade, para ser Mãe do Filho de Deus feito homem, a Virgem Maria adquiriu relações íntimas e inefáveis com a Santíssima Trindade, que criatura nenhuma outra pode ter. De outra parte foi Ela associada a toda a obra divina, porquanto a Encarnação do Verbo de Deus é a razão de ser de tudo quanto foi feito.
Como Mãe de Deus, adorna-se Nossa Senhora de perfeições que a elevam ao concílio íntimo das Três Pessoas Divinas: como Mãe do Redentor, participa da Missão do Filho de Deus na terra, é a Corredentora. Eis que Maria Santíssima ao lado de Deus e seu Filho, ocupa lugar central na Economia da graça.
A devoção que lhe presta o povo fiel é característica da verdadeira Igreja de Jesus Cristo. Por Ela os cristãos do Japão, após 150 anos de perseguição feroz que os separou totalmente do Ocidente, discerniram como católico o missionário que lá apareceu, capelão do consulado francês. Em sentido inverso, o esmorecimento da devoção marial é indício de inautenticidade católica. De modo geral, a heresia afasta, quando não odeia e combate o culto à Santíssima Virgem.
Eis a razão porque, no Vaticano II, causou pesar e estranheza a corrente conciliar temerosa de dar à Mãe de Deus excessivo destaque! Na aula conciliar, não faltou quem debicasse de seu título de Mãe da Igreja, que a faria, dizia o orador, a “avó” do povo fiel. A súplica pela definição do dogma da Mediação Universal de Maria, apresentada por seiscentos bispos, passou em silêncio; e um estudo especial sobre a Mãe Santíssima de Deus, previsto no esquema da Comissão Preparatória, foi rejeitado: bastaria que Maria Santíssima aparecesse como apêndice da constituição sobre a Igreja! Com essa leva de teólogos, tão poderosa no Concílio, não admira uma missa pós-conciliar que se aproxima da liturgia protestante!
“De Maria nunquam satis”, dizem os Santos. Não se deve dizer basta nos louvores a Maria Santíssima. Não temamos cultuá-la excessivamente. Estamos sempre muito aquém do que Ela merece. Não é pelo excesso que nossa devoção marial falha. E sim, quando é sentimental e egoísta. Há devotos de Maria que se comovem até às lágrimas, e, no entanto, se ajustam, sem escrúpulos à imodéstia e à sensualidade dominantes na sociedade de hoje. Sem imitação não há verdadeira devoção marial.
Consagremos, realmente, a Maria Santíssima nossa inteligência e nossa vontade, com a mortificação de nossa sensibilidade e de nossos gostos, e Ela cuidará de nossa ortodoxia. “Quielucidant me vitam aeternam habebunt” (Ec. 24, 31), diz a Igreja de Maria. Os que se ocupam de fazê-la conhecida e honrada terão a vida eterna.
Dom Antônio de Castro Mayer (1982)
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