sábado, 9 de dezembro de 2017

Eclesiavacantismo?


Fonte

“Ninguém pode servir a dois senhores: ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de aderir a um e desprezar o outro.” São Lucas XVI, 13

Prezados amigos,

Salve Maria!

Chegou-nos às mãos um texto que precisa ser esclarecido. O texto preambula com a seguinte frase: “[...] distinga-se bem o Apostolado da Oração do Vale do Aço do outro grupo, pois há divergências de cunho doutrinal e teológico, sobre as quais o fiel deve ficar atento para  saber onde pisa. [...]”.

Nisso é preciso que se dê razão ao subscritor daquele texto. Existem, tanto no Vale do Aço quanto no Brasil inteiro (e em outras partes do Globo) dois grupos apostolares (in latu sensu): Um que trabalha na defesa de personagens e outro que trabalha em defesa de Cristo Rei. É verdade que entre esses grupos há divergências de cunho doutrinal e teológico e neste pequeníssimo texto, tentaremos desbaratar de uma vez por todas esta questão.

Quando se pretende desmoralizar o adversário, entretanto não há argumentos básicos para tanto, põe-lhe uma pecha e quando não há um nome que adeque ao que se pretende, simplesmente, cria-se neologismos.

No caso em comento, refiro-me ao cunho do termo “eclesiavacantismo” e seus derivados. E o que é “eclesiavacantismo”? O texto responde: “[...] dizer que o papa ou os bispos, ainda que modernistas, não são - em aspecto algum – membros da Igreja Católica é o mesmo que declarar suas sedes vacantes, o que se denomina hodiernamente “eclesiavacantismo”(afirmar que todas as sedes estão vacantes).

A expressão chave para entender onde reside o erro é a seguinte: “ainda que modernistas...”. Ou seja, há um reconhecimento de que as autoridades eclesiásticas atuais são modernistas. Grande avanço! Mas... continuam dizendo “Ambos os bispos, [Dom Antônio e Dom Lefebvre] conquanto tenham identificado o Magistério Conciliar e sua doutrina como uma anti-igreja, jamais negaram que em certos aspectos eles ainda são membros da Igreja.” (grifos não contém no original).

O que lhes falta de Catecismo de Primeira Comunhão lhes sobra em neologismos. O Catecismo de São Pio X no ponto 224 diz claramente quem são os que estão fora da verdadeira Igreja. Senão, vejamos:

224 Quem são os que se encontram fora da verdadeira Igreja?
Encontram-se fora da verdadeira Igreja os infiéis, os judeus, os hereges, os apóstatas, os cismáticos e os excomungados.”

Vamos nos deter em apenas duas classes: os hereges e os excomungados.

227 Quem são os hereges?
Os hereges são as pessoas batizadas que recusam com pertinácia crer em alguma verdade revelada por Deus e ensinada como de fé pela Igreja Católica: por exemplo, os arianos, os nestorianos e as várias seitas dos protestantes.”

230 Quem são os excomungados?
Os excomungados são aqueles que por faltas graves são fulminados com excomunhão pelo Papa ou pelo Bispo, e portanto são separados, como indignos, do corpo da Igreja, a qual espera e deseja a sua conversão.”

É sabido e ressabido que o Papa São Pio X excomungou os modernistas, assim como o Papa Pio IX condenou os liberais no Syllabus. Se se afiança que alguém é modernista e/ou liberal, ou seja, recusa com pertinácia a crer nalguma verdade revelada e ensinada pela Igreja, estamos dizendo que são hereges.

Eis a pergunta: Como modernistas podem ser “membros da Igreja”? Como é possível que chamem como testemunhas para esses disparates Dom Lefebvre e Dom Castro Mayer?

Dom Antônio de Castro Mayer deixou bem claro sua posição quando disse:

“O Segundo Concílio do Vaticano constitui-se uma anti-Igreja... Por isso, dizemos que o Vaticano II firmou-se como a anti-Igreja. Consequência: quem adere ao Vaticano II, sem restrição, só por esse fato, desliga-se da verdadeira Igreja de Cristo. Ninguém pode, ao mesmo tempo, ser católico e subscrever tudo quanto estabeleceu no Concílio Vaticano II. Diríamos que a melhor maneira de abandonar a Igreja de Cristo, Católica Apostólica Romana é aceitar, sem reservas o que ensinou e propôs o Concílio Vaticano II. Ele é a anti-Igreja”. Este texto foi publicado no Heri et Hodie, nº. 33, setembro de 1986 e na Revista Permanência, nº. 218-219, janeiro-fevereiro de 1987. Trecho retirado do livro: “O Pensamento de Dom Antônio de Castro Mayer”, páginas 17 e 18, Editora Permanência, 2010, Rio de Janeiro.

O Leão de Campos continua:

“E uma observação radical, sobre o que se passa em meios católicos, leva à persuasão de que, realmente, após o Concílio, existe uma nova Igreja essencialmente distinta daquela conhecida, antes do grande Sínodo, como única Igreja de Cristo... Estamos, pois diante de uma nova religião, a religião do homem”. Este texto foi publicado no Boletim Diocesano, abril de 1972. Trecho retirado do livro: “O Pensamento de Dom Antônio de Castro Mayer”, páginas 21 e 22, Editora Permanência, 2010, Rio de Janeiro.

E, por fim: “... estamos com uma igreja nova, portanto, com uma fé nova... Trata-se de uma igreja evolutiva, modificando-se sempre para adaptar ao fluxo da História, que não retorna. Já ninguém mais duvida de que essa igreja não é a Igreja Católica da Tradição que remonta dos tempos dos apóstolos. Trata-se, pois, agora de persuadir o povo de que essa é a Igreja Verdadeira, a Igreja de Jesus Cristo”. Este texto foi publicado no Monitor Capista, 04/09/1983. Trecho retirado do livro: “O Pensamento de Dom Antônio de Castro Mayer”, página 47, Editora Permanência, 2010, Rio de Janeiro.

Dom Lefebvre, no livro “Carta aberta aos católicos perplexos” na página 128, diz textualmente: “Eu não sou desta religião. Não aceito esta nova religião. É uma religião liberal, modernista, que tem seu culto, seus sacerdotes, sua fé, seus catecismos, sua Bíblia ecumênica traduzida por católicos, judeus, protestantes, anglicanos, agradando a gregos e troianos, dando satisfação a todo o mundo, sacrificando muito frequentemente a interpretação do Magistério”.

Dom Lefebvre também disse: “Estaria muito feliz de ser excomungado desta Igreja Conciliar... É uma Igreja que eu não reconheço. Eu pertenço a Igreja Católica”. (Minute 30 Julho de 1976). Fonte.

Acaso Dom Lefebvre, tivesse firme a posição de que o Papa Paulo VI pertencia a Igreja Católica e exercia sobre ele alguma autoridade, ficaria feliz de ser excomungado? Isso é um delírio!

Na conferência do dia 15 de junho de 1988, Dom Lefebvre diz claramente, inclusive ao Cardeal Ratzinger que existem duas igrejas: uma Verdadeira e outra paralela, senão, vejamos:

 “O Cardeal Ratzinguer repetiu várias vezes: “Monsenhor, há uma só Igreja; não pode haver Igreja paralela.” Eu disse-lhe: “Eminência, não somos nós que fazemos uma Igreja paralela, porque nós continuamos com a Igreja de sempre. Os senhores é que fazem uma Igreja paralela ao inventar a Igreja do Concílio, essa que o Cardeal Benelli chamou a Igreja Conciliar. Os senhores fizeram novos catecismos, novos sacramentos, uma nova missa, uma nova liturgia, não somos nós. Nós continuamos o que anteriormente se fazia. Não somos nós que fazemos umanova Igreja!” (grifos nossos).

E para arrematar, Dom Lefebvre, no citado livro, na mesma página 128 diz: “Nas ladainhas de Rogações a Igreja nos faz dizer ‘Nós vos suplicamos, Senhor, manter na vossa santa religião o Soberano Pontífice e todas as ordens da hierarquia eclesiástica’. Isso quer dizer que uma desgraça pode suceder.” (grifos não contém nos originais). Precisa ser mais claro?

Veja que Dom Lefebvre admitiu que “o Soberano Pontífice e todas as ordens da hierarquia eclesiástica”, conforme reza as ladainhas de Rogações, pode sim estar fora da “santa religião”. Se acontecesse que fosse impossível que “o Soberano Pontífice e todas as ordens da hierarquia eclesiástica” pudesse alijar-se da Santa Religião, pedir a Deus isso seria pedir uma coisa impossível.

Bom, o texto fala também de sectarismo. Diz o texto: “Pois bem, o Apostolado da Oração recomenda aos seus fiéis que evitem tais extremismos que beiram o sectarismo e não estão fundados na integridade da Doutrina Católica e Obra de D. Lefebvre.” (grifos não contém no original)

 E o que é uma seita? Diz-se:
“substantivo feminino
Doutrina que, propagada por um grande número de pessoas, se afasta ou diverge de certa forma de outra doutrina principal.
[Religião] Grupo religioso dissidente, que deixa de participar de uma religião por não concordar com suas normas e objetivos.”

Pois bem, em geral, a seita sempre tem um mestre, onde tudo gira em torno dele. Os seus defensores são capazes de fazer um triângulo redondo caso seja necessário para defender a sua doutrina.

Acontece que:

1) Não fomos nós quem dissemos que existem árvores “metade boa e metade má” contrariando o “sim, sim, não, não!” de Nosso Senhor Jesus Cristo.

2) Não fomos nós quem dissemos que “as parábolas de Cristo não são definições dogmáticas”, enquanto Nosso Senhor disse: “aquele que me ama guardará Minhas palavras”.

3) Não fomos nós quem dissemos que “Maria Valtorta é um presente de Deus” e a recomendamos para crianças, enquanto que dá vergonha de reproduzir aqui os escritos desta senhora.

4) Não fomos nós quem dissemos que “A Igreja conciliar e neomodernista não é portanto nem uma Igreja substancialmente diferente da Igreja Católica nem absolutamente idêntica; ela tem misteriosamente algo de um e de outra: é um corpo estranho que ocupa a Igreja Católica. É preciso distingui-las sem separá-las.” Fonte. Enquanto que Dom Antônio diz: “Trata-se, pois, agora de persuadir o povo de que essa é a Igreja Verdadeira, a Igreja de Jesus Cristo”. As Sagradas Escrituras perguntam: “Que união pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunidade entre a luz e as trevas?” (II Cor. VI, 14)

5) Não foi nenhum de nós quem fomos confirmar feeneystas.

6) Não foi nenhum de nós quem dissemos que pegaríamos o próximo avião para Roma, caso o Papa Francisco chamasse a fundar uma sociedade.

7) Não foi nenhum de nós quem disse que “A Missa Nova pode ser assistida com o efeito de construir a sua fé”…

8) Não foi nenhum dos nossos quem recomendou a Missa Nova para ninguém.

9) Não foi nenhum dos nossos quem decretou milagres na Missa Nova.

10) Não foi nenhum dos nossos quem disse que “Deus pretende salvar muitas almas que estão fora da “Tradição””, entretanto não clarificou quais são as condições para tanto.

Aqui também há um compêndio de ditos e fatos sobre Dom Williamson que não podem cair no esquecimento.

Então, meus senhores, peço humildemente que nos apontem qual foi a doutrina que criamos para sermos acusados de sectarismo e quem é o nosso guru. O que não podemos e não fazemos é acusar o outro daquilo que praticamos.

O texto sob o qual nos debruçamos diz: “distinga-se bem o Apostolado da Oração do Vale do Aço do outro grupo”. Também pedimos isso, encarecidamente. Resta saber quem de fato não está “fundado na integridade da Doutrina Católica e Obra de D. Lefebvre”.

O Imitação diz: “tem, pois, principalmente zelo de ti, e depois o terás, com direito, do teu próximo.” Livro II, cap. 3.

8 de dezembro de 2017, na festa da Imaculada Conceição da Virgem Santíssima


Eugênio Mendes

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