segunda-feira, 15 de abril de 2013

ESSÊNCIA E FINS DO SACRIFÍCIO


 A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946



ESSÊNCIA E FINS DO SACRIFÍCIO
4 de Julho de 1940

             Continuemos a estudar o Santo Sacrifício da Missa.
            Sua essência consiste na consagração do pão e do vinho. A comunhão do sacerdote que celebra é somente parte integrante do sacrifício.
          Recordemos a última Ceia. Jesus toma o pão, dá graças ao Pai, volve para o céu os olhos e abençoa, dizendo — “isto é o meu Corpo”. Logo depois: “Fazei isto em memória de mim”. Consa­gra, com o mesmo rito, o vinho que está no cáli­ce... — Acrescenta: “Fazei isto em memória de mim”.
            Antes de sofrer a sua dolorosíssima paixão, antes de morrer, Jesus institui o Sacramento que, por um sacrifício incruento, perpetuará a lembran­ça da Redenção. Vê-se tão claramente a idéia do sofrimento e da morte!
            — Corpo que será entregue... sangue sepa­rado do corpo, derramado até à última gota... E Jesus Cristo ordena terminantemente: “fazei isto em memória de mim!” — E o Sacerdote católico, tomando o pão e depois o cálice, pronuncia as mesmas palavras do divino Mestre, reproduzindo o que se passou no Cenáculo de Jerusalém, perpe­tuando a memória da Paixão e morte de Jesus.
            A comunhão, parte integrante do sacrifício, é a consunção da Vítima incruenta.

            Eis a essência da Missa.
            Como já disse, o sacrifício desde os tempos mais remotos, pode ser um holocausto, ou um sa­crifício eucarístico, impetratório ou propiciatório.
           É a Missa verdadeiro holocausto, pois é a mais perfeita homenagem ao supremo domínio do Criador no mundo universo. Recordando as cenas tremendas do Calvário, o sacerdote e os fiéis que, em união de corações, assistem à Missa, curvam-se diante da Justiça Eterna, que não poupou Seu próprio Filho Unigênito! O corpo de Jesus, templo de Deus, é destruído, conforme a sua própria lin­guagem! A Hóstia consagrada, na qual está o Cristo em corpo, sangue, alma e divindade, é des­truída pela Comunhão do celebrante e dos fiéis, — homenagem agradabilíssima à onipotência e ao supremo domínio do Criador dos mundos.
            A Missa é um sacrifício eucarístico, é o sa­crifício das ações de graças, por excelência. Esta é uma preciosa tradição, uma prática enraizada profundamente na alma, na família, na sociedade, em todos os lugares do universo. Para um verda­deiro cristão, a Missa é o modo mais adequado e mais solene de agradecer a Deus um benefício, uma graça recebida.
           A Missa é propiciatória, desagravando a Deus dos pecados dos homens. E, como diz o mesmo Jesus Cristo, Seu sangue é derramado, para remis­são dos pecados. O Concílio Tridentino diz que a Missa é oferecida pelos vivos e defuntos, pelos pe­cados, penas e satisfações e outras necessidades.
           É finalmente um sacrifício impetratório. Oferece-se a Missa pela paz comum das igrejas, pelo reto governo das nações, por aqueles que são trabalhados por enfermidades, pelos que se vêem acabrunhados... em uma palavra, para pedir a Deus, por Jesus Cristo Nosso Senhor, todos os bens espirituais e temporais.
            A Missa é realmente uma inesgotável fonte de bênçãos preciosas!
            Para concluir o capítulo, duas palavras ainda sobre o Ministro do Santo Sacrifício da Missa.
            O Ministro principal do augusto Sacrifício é Jesus Cristo. Assim o declaram o IV Concílio de Latrão e o Tridentino.[1] Das mesmas palavras da forma, como já disse, ressalta a verdade desta afirmação: “Isto é o meu corpo” — diz o cele­brante. Os sacerdotes, e só eles, são os Ministros secundários. Só aos apóstolos e seus sucessores de­terminou Jesus: “Fazei isto em memória de mim”. E São Paulo aos hebreus diz expressamente: “To­do o pontífice, tirado do meio dos homens, é cons­tituído a bem dos homens, no que concerne às re­lações com Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados” (Heb 5, 1; 8, 3). — Esta doutrina é confirmada pelo ensino dos Santos Padres e pela Tradição. 



[1]      Denziger, 430 — Trid. Sess. XXII, cap. II.


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