A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
ESSÊNCIA E FINS DO SACRIFÍCIO
4 de Julho de 1940
Continuemos a estudar o Santo Sacrifício da Missa.
Sua essência consiste na consagração do pão e do vinho. A comunhão do sacerdote que celebra é somente parte integrante do sacrifício.
Recordemos a última Ceia. Jesus toma o pão, dá graças ao Pai, volve para o céu os olhos e abençoa, dizendo — “isto é o meu Corpo”. Logo depois: “Fazei isto em memória de mim”. Consagra, com o mesmo rito, o vinho que está no cálice... — Acrescenta: “Fazei isto em memória de mim”.
Antes de sofrer a sua dolorosíssima paixão, antes de morrer, Jesus institui o Sacramento que, por um sacrifício incruento, perpetuará a lembrança da Redenção. Vê-se tão claramente a idéia do sofrimento e da morte!
— Corpo que será entregue... sangue separado do corpo, derramado até à última gota... E Jesus Cristo ordena terminantemente: “fazei isto em memória de mim!” — E o Sacerdote católico, tomando o pão e depois o cálice, pronuncia as mesmas palavras do divino Mestre, reproduzindo o que se passou no Cenáculo de Jerusalém, perpetuando a memória da Paixão e morte de Jesus.
A comunhão, parte integrante do sacrifício, é a consunção da Vítima incruenta.
Eis a essência da Missa.
Como já disse, o sacrifício desde os tempos mais remotos, pode ser um holocausto, ou um sacrifício eucarístico, impetratório ou propiciatório.
É a Missa verdadeiro holocausto, pois é a mais perfeita homenagem ao supremo domínio do Criador no mundo universo. Recordando as cenas tremendas do Calvário, o sacerdote e os fiéis que, em união de corações, assistem à Missa, curvam-se diante da Justiça Eterna, que não poupou Seu próprio Filho Unigênito! O corpo de Jesus, templo de Deus, é destruído, conforme a sua própria linguagem! A Hóstia consagrada, na qual está o Cristo em corpo, sangue, alma e divindade, é destruída pela Comunhão do celebrante e dos fiéis, — homenagem agradabilíssima à onipotência e ao supremo domínio do Criador dos mundos.
A Missa é um sacrifício eucarístico, é o sacrifício das ações de graças, por excelência. Esta é uma preciosa tradição, uma prática enraizada profundamente na alma, na família, na sociedade, em todos os lugares do universo. Para um verdadeiro cristão, a Missa é o modo mais adequado e mais solene de agradecer a Deus um benefício, uma graça recebida.
A Missa é propiciatória, desagravando a Deus dos pecados dos homens. E, como diz o mesmo Jesus Cristo, Seu sangue é derramado, para remissão dos pecados. O Concílio Tridentino diz que a Missa é oferecida pelos vivos e defuntos, pelos pecados, penas e satisfações e outras necessidades.
É finalmente um sacrifício impetratório. Oferece-se a Missa pela paz comum das igrejas, pelo reto governo das nações, por aqueles que são trabalhados por enfermidades, pelos que se vêem acabrunhados... em uma palavra, para pedir a Deus, por Jesus Cristo Nosso Senhor, todos os bens espirituais e temporais.
A Missa é realmente uma inesgotável fonte de bênçãos preciosas!
Para concluir o capítulo, duas palavras ainda sobre o Ministro do Santo Sacrifício da Missa.
O Ministro principal do augusto Sacrifício é Jesus Cristo. Assim o declaram o IV Concílio de Latrão e o Tridentino.[1] Das mesmas palavras da forma, como já disse, ressalta a verdade desta afirmação: “Isto é o meu corpo” — diz o celebrante. Os sacerdotes, e só eles, são os Ministros secundários. Só aos apóstolos e seus sucessores determinou Jesus: “Fazei isto em memória de mim”. E São Paulo aos hebreus diz expressamente: “Todo o pontífice, tirado do meio dos homens, é constituído a bem dos homens, no que concerne às relações com Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados” (Heb 5, 1; 8, 3). — Esta doutrina é confirmada pelo ensino dos Santos Padres e pela Tradição.
[1] Denziger, 430 — Trid. Sess. XXII, cap. II.
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