REGRAS
PARA O DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS TOMADAS DO LIVRO DE EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA
313 –
Regras para de alguma maneira sentir e conhecer as várias moções que se causam
na alma: as boas para as aceitar e as más para as rejeitar, e são mais próprias
para a Primeira Semana.
314
– Primeira regra.
Nas pessoas que vão de pecado mortal em pecado mortal, costuma ordinariamente o
inimigo propor-lhes prazeres aparentes, fazendo-lhes imaginar deleites e
prazeres sensuais, para mais as conservar e fazer crescer em seus vícios e
pecados. Com estas pessoas o bom espírito usa um modo contrário: punge-lhes e
remorde-lhes a consciência pelo instinto da razão.
315
– Segunda regra.
Nas pessoas que se vão intensamente purificando de seus pecados, e subindo de
bem em melhor no serviço de Deus nosso Senhor, o modo de agir é contrário ao da
primeira regra. Porque então é próprio do mau espírito morder, entristecer e
pôr impedimentos, inquietando com falsas razões, para que não se vá para frente.
E é próprio do bom espírito dar ânimo e forças, consolações, lágrimas,
inspirações e quietude, facilitando e tirando todos os impedimentos, para que
ande para diante na prática do bem.
316
– Terceira regra.
Consolação espiritual. Chamo consolação, quando na alma se produz alguma moção
interior, com a qual vem a alma a inflamar-se no amor de seu Criador e Senhor;
e quando, consequentemente, nenhuma coisa criada sobre a face da terra pode
amar em si mesma, a não ser no Criador de todas elas. E também, quando derrama
lágrimas que a movem ao amor do seu Senhor, quer seja pela dor se seus pecados
ou da Paixão de Cristo nosso Senhor, quer por outras coisas diretamente
ordenadas a seu serviço e louvor. Finalmente, chamo consolação todo o aumento
de esperança, fé e caridade e toda a alegria interior que chama e atrai às
coisas celestiais e à salvação de sua própria alma, aquietando-a e
pacificando-a em seu Criador e Senhor.
317
– Quarta regra.
Desolação espiritual. Chamo desolação a todo o contrário da terceira regra,
como obscuridade da alma, perturbação, inclinação a coisas baixas e terrenas,
inquietação proveniente de várias agitações e tentações que levam a falta de
fé, de esperança e de amor; achando-se a alma toda preguiçosa, tíbia, triste, e
como que separada de seu Criador e Senhor. Porque assim como a consolação é
contrária à desolação, da mesma maneira os pensamentos que provêm da consolação
são contrários aos pensamentos que provêm da desolação.
318
– Quinta regra.
Em tempo de desolação, nunca fazer mudança, mas estar firme e constante nos
propósitos e determinação em que estava, no dia anterior a essa desolação, ou
na determinação em que estava na consolação antecedente. Porque, assim como, na
consolação, nos guia e aconselha mais o bom espírito, assim, na desolação, nos
guia e aconselha o mau, com cujos conselhos não podemos tomar caminho para
acertar.
319
– Sexta regra.
Uma vez que no tempo de desolação não devemos mudar as resoluções anteriores,
aproveita muito reagir intensamente contra a mesma desolação, por exemplo
insistindo mais na oração, na meditação, em examinar-se muito e em alargar-nos
nalgum modo conveniente de fazer penitência.
320
– Sétima regra.
O que está em desolação considere como o Senhor o deixou em prova, nas suas
potências naturais, para que resista às várias agitações e tentações do
inimigo; pois pode fazê-lo com o auxílio divino, que sempre lhe fica, ainda que
o não sinta claramente; porque o Senhor lhe subtraiu o seu muito fervor, o
grande amor e a graça intensa, ficando-lhe, contudo graça suficiente para a
salvação eterna.
321
– Oitava regra.
O que está em desolação trabalhe por manter-se na paciência que é contrária às
vexações que lhe advêm, e pense que será depressa consolado, se puser a
diligência contra essa desolação, como se disse na Sexta regra.
322
– Nona regra.
Três são as causas principais por que nos achamos desolados: A primeira é por
sermos tíbios, preguiçosos ou negligentes em nossos exercícios espirituais. E
assim, por nossas faltas, se afasta de nós a consolação espiritual. A segunda,
para nos mostrar de quanto somos capazes e até onde nos alargamos no seu
serviço e louvor, sem tanto dispêndio de consolações e grandes graças. A
terceira, para nos dar verdadeira informação e conhecimento, com que sintamos
internamente que não depende de nós fazer vir ou conservar devoção grande, amor
intenso, lágrimas nem nenhuma outra consolação espiritual, mas que tudo é dom e
graça de Deus nosso Senhor. E para que não façamos ninho em propriedade alheia,
elevando o nosso entendimento a alguma soberba ou vanglória, atribuindo a nós a
devoção ou as outras formas de consolação espiritual.
323
– Décima regra.
O que está em consolação pense como se haverá na desolação que depois virá, e
tome novas forças para então.
324
– Décima primeira regra. O que está consolado procure humilhar-se e
abater-se quanto puder, pensando para quão pouco é, no tempo da desolação, sem
essa graça ou consolação. Pelo contrário, o que está em desolação pense que
pode muito com a graça suficiente para resistir a todos os seus inimigos, e
tome forças no seu Criador e Senhor.
325
– Décima segunda regra. O inimigo porta-se como uma mulher: fraco ante a
resistência, e forte, ante a condescendência. Porque assim como é próprio da
mulher, quando briga com um homem, perder ânimo e pôr-se em fuga, quando o
homem lhe mostra rosto firme; e, pelo contrário, se o homem começa a fugir e
perde a coragem, a ira, a vingança e a ferocidade da mulher é muito grande e se
torna desmedida. Da mesma maneira, é próprio do inimigo enfraquecer e perder
ânimo, dando em fuga com suas tentações, quando a pessoa que se exercita nas
coisas espirituais enfrenta, sem medo, as tentações do inimigo, fazendo o
diametralmente oposto. E, pelo contrário, se a pessoa que se exercita começa a ter
temor e a perder ânimo em sofrer as tentações, não há besta tão feroz sobre a
face da terra, como o inimigo da natureza humana, no prosseguimento da sua
perversa intenção, nem com uma tão grande malícia.
326
– Décima terceira regra. Porta-se também como um namorado frívolo, querendo
ficar no segredo e não ser descoberto. Porque, assim como um homem frívolo,
que, falando com má intenção, solicita a filha dum bom pai ou a mulher dum bom
marido, quer que as suas palavras e insinuações fiquem secretas; e, muito lhe
desagrada, pelo contrário, quando a filha descobre ao pai, ou a mulher ao
marido, suas palavras frívolas e sua intenção depravada, porque facilmente
deduz que não poderá realizar a empresa começada. Da mesma maneira, quando o inimigo
da natureza humana vem com as suas astúcias e sugestões à alma justa, quer e
deseja que sejam recebidas e tidas em segredo; mas pesa-lhe muito, quando a
alma as descobre ao seu bom confessor ou a outra pessoa espiritual que conheça
seus enganos e maldades, porque conclui que não poderá levar a cabo a maldade
começada, ao serem descobertos seus evidentes enganos.
327
– Décima quarta regra. Comporta-se também como um chefe militar para
vencer e roubar o que deseja. Porque, assim como um capitão e chefe dum
exército, em campanha, depois de assentar arraiais e examinar as forças ou a
disposição dum castelo, o combate pela parte mais fraca, da mesma maneira o
inimigo da natureza humana, fazendo a sua ronda, examina todas as nossas
virtudes teologais, cardeais e morais, e por onde nos acha mais fracos e mais
necessitados para a nossa salvação eterna, por aí nos atacam e procuram
tomar-nos.
328 –
Regras para o mesmo efeito com maior discernimento de espíritos, e são mais
convenientes para a Segunda Semana.
329
– Primeira regra.
É próprio de Deus e dos seus anjos, em suas moções, dar verdadeira alegria e
gozo espiritual, tirando toda a tristeza e perturbação que o inimigo suscita.
Deste é próprio lutar contra a alegria e consolação espiritual, apresentando razões
aparentes, subtilezas e contínuas falácias.
330
– Segunda regra.
Só a Deus nosso Senhor pertence dar consolação à alma sem causa precedente.
Porque é próprio do Criador entrar, sair, produzir moção na alma, trazendo-a
toda ao amor de sua divina majestade. Digo: sem causa, isto é, sem nenhum
prévio sentimento ou conhecimento de algum objeto pelo qual venha essa
consolação, mediante seus atos de entendimento e vontade.
331
– Terceira regra.
Com causa, pode consolar a alma, assim o anjo bom como o mau, para fins
contrários: o bom anjo para proveito da alma, afim de que cresça e suba de bem
em melhor; e o mau anjo para o contrário, e para ulteriormente trazê-la à sua
perversa intenção e maldade.
332
– Quarta regra.
É próprio do anjo mau, que se disfarça em anjo de luz, entrar com o que se
acomoda à alma devota e sair com o que lhe convém a si, isto é, trazer
pensamentos bons e santos, acomodados a essa alma justa, e, depois, pouco a
pouco, procurar sair-se, trazendo a alma aos seus enganos encobertos e
perversas intenções.
333
– Quinta regra.
Devemos estar muito atentos ao decurso dos pensamentos. Se o princípio, meio e
fim são inteiramente bons, inclinando a tudo bem, é sinal do bom anjo. Mas se
no decurso dos pensamentos que traz, acaba nalguma coisa má, ou menos boa que
aquela que a alma antes propusera fazer, ou a enfraquece, ou inquieta, ou
perturba, tirando-lhe a sua paz, tranquilidade e quietude que antes tinha, é
claro sinal que procede do mau espírito, inimigo do nosso proveito e salvação
eterna.
334
– Sexta regra.
Quando o inimigo da natureza humana for sentido e conhecido pela sua cauda
serpentina e pelo mau fim a que induz, aproveita à pessoa que por ele foi
tentada, verificar logo o decurso dos pensamentos que ele lhe trouxe, e o
princípio deles, e como, pouco a pouco, procurou fazê-la descer da suavidade e
gozo espiritual em que estava, até trazê-la à sua intenção depravada. Para que,
com tal experiência, conhecida e notada, se guarde, daí por diante, de seus
habituais enganos.
335
– Sétima regra.
Naqueles que progridem de bem em melhor, o bom anjo toca-lhes a alma doce, leve
e suavemente, como gota de água que penetra numa esponja; e o mau anjo toca
agudamente, com ruído e agitação, como quando a gota de água cai sobre a pedra;
e aos que vão de mal em pior, os mesmos espíritos tocam-nos de modo oposto. A
causa desta diversidade está na disposição da alma ser contrária ou semelhante
à dos ditos anjos. Porque, quando é contrária, entram com ruído e comoção, de
maneira perceptível; e quando é semelhante, entram silenciosamente, como em
casa própria, de porta aberta.
336
– Oitava regra.
Quando a consolação é sem causa, embora nela não haja engano, por provir só de
Deus nosso Senhor, como dissemos [330]; contudo a pessoa espiritual, a quem Deus
dá essa consolação, deve observar e distinguir, com muita vigilância e atenção,
o tempo próprio dessa consolação do tempo que se lhe segue, em que a alma fica
quente e favorecida com o favor e os restos da consolação passada. Porque,
muitas vezes, neste segundo tempo, por seu próprio raciocínio feito de relações
e deduções de conceitos e juízos, ou pelo bom espírito ou pelo mau, forma
diversas resoluções e opiniões que não são dadas imediatamente por Deus nosso
Senhor. E, portanto, é necessário examiná-las muito bem, antes de se lhes dar
pleno crédito e de se porem em prática.
337 –
No ministério de distribuir esmolas devem-se guardar as regras seguintes.
338
– Primeira regra.
Se eu faço a distribuição a parentes ou amigos ou a pessoas a quem tenho
afeição, deverei atender a quatro coisas das quais se falou, em parte, ao
tratar da eleição [184-187]. A primeira é que o amor que me move e me faz dar a
esmola, desça do alto, do amor de Deus nosso Senhor, de forma que eu sinta
primeiro em mim que o amor maior ou menor que tenho a essas pessoas é por Deus,
e que na causa por que as amo, transpareça Deus.
339
– Segunda regra.
Quero imaginar um homem a quem nunca tenha visto nem conhecido; e, desejando-lhe
eu toda a perfeição, no cargo e estado que tem, que procedimento desejaria eu
que ele seguisse, na sua maneira de distribuir esmolas, para a maior glória de
Deus nosso Senhor e maior perfeição de sua alma, e, procedendo eu assim, nem
mais nem menos, guardarei a mesma regra e à medida que desejaria que ele
seguisse e que julgo ser a melhor [185].
340
– Terceira regra.
Quero considerar, como se estivesse em artigo de morte, a forma e medida que
quereria então ter seguido, no cargo da minha administração; e regulando-me por
ela, segui-la-ei nos atos da minha distribuição [186].
341
– Quarta regra.
Considerando como me acharei no dia de Juízo, pensar bem como então quereria
ter usado deste ofício e cargo de distribuir esmolas. A regra que então desejaria
ter tido, tê-la agora [187].
342
– Quinta regra.
Quando alguém se sente inclinado ou afeiçoado a algumas pessoas às quais quer
distribuir esmolas, detenha-se e reflita bem sobre as quatro regras precedentes
[184-187], examinando e verificando, à luz delas, a sua afeição. E, não dê a
esmola, até que, conforme a essas regras, tenha totalmente tirado e afastado a
sua afeição desordenada.
343
– Sexta regra.
Ainda que não há culpa em tomar os bens de Deus nosso Senhor, para os distribuir,
quando a pessoa é chamada por nosso Deus e Senhor, para este ministério; contudo
no cálculo e quantidade do que há de tomar e aplicar a si mesmo do que tem para
dar a outros, há lugar para dúvida de culpa e excesso. Por isso pode
reformar-se no que se refere à sua vida e estado, pelas regras acima
mencionadas.
344
– Sétima regra.
Pelas razões já expostas e por muitas outras, é sempre melhor e mais seguro, no
que se refere às despesas pessoais e domésticas, restringir e reduzir, o mais possível,
e conformar-se quanto puder com o nosso Sumo Pontífice, modelo e regra nossa, que
é Cristo nosso Senhor. Conforme a isto, o terceiro Concílio Cartaginês (no qual
esteve S. Agostinho) determina e manda que a mobília do bispo seja comum e
pobre. A mesma consideração se deve fazer, em todos os estados de vida, guardando
as proporções e tendo em conta a condição, nível social e estado das pessoas.
Assim, no estado matrimonial, temos o exemplo de S. Joaquim e S. Ana que
dividiam os seus bens em três partes, a primeira davam aos pobres, a segunda ao
ministério e serviço do templo, e tomavam a terceira para sustento de si mesmos
e de sua família.
345 –
As notas seguintes ajudam a discernir e compreender os escrúpulos e as
insinuações do nosso inimigo.
346
– Primeira nota.
Chama-se vulgarmente escrúpulo o que provem do nosso próprio juízo e liberdade,
a saber: quando eu livremente imagino que é pecado aquilo que não é pecado. Assim,
por exemplo, acontece que alguém, depois de ter pisado casualmente uma cruz de palha,
imagina, por seu próprio juízo, que pecou; isto é propriamente um juízo errôneo
e não propriamente um escrúpulo.
347
– Segunda nota. Depois
de ter pisado aquela cruz, ou depois de ter pensado ou dito ou feito qualquer
outra coisa, vem-me de fora um pensamento de que pequei e, por outro lado, parece-me
a mim que não pequei. Contudo sinto nisto perturbação, a saber, enquanto por um
lado duvido e por outro não duvido. Isto é que é propriamente um escrúpulo e
uma tentação que o inimigo me sugere. [32,351].
348
– Terceira nota.
O primeiro escrúpulo, o da primeira nota, deve muito se aborrecer, porque é um
verdadeiro erro; mas o segundo, o da segunda nota, durante algum tempo, não é
de pouco proveito para a alma que se dá a exercícios espirituais. Pelo
contrário, em grande maneira, purifica e limpa essa alma, separando-a muito de
toda a aparência de pecado, conforme a palavra de S. Gregório: "É próprio
das almas boas ver falta onde não há nenhuma".
349
– Quarta nota.
O inimigo observa muito se a alma é grosseira ou delicada. Se é delicada,
procura torná-la ainda mais delicada, até ao extremo, para mais a perturbar e arruinar;
por exemplo, se vê que uma alma não consente em pecado mortal nem venial nem sequer
em aparência de pecado deliberado, então o inimigo, quando vê que não a pode fazer
cair em coisa que pareça pecado, procura fazê-la imaginar pecado onde não há pecado,
como, por exemplo, numa palavra ou pensamento sem importância. Se a alma é grosseira,
o inimigo procura engrossá-la mais, por exemplo: se antes não fazia caso dos pecados
veniais, procurará que faça pouco dos mortais, e se algum caso fazia antes, procurará
que muito menos ou nenhum faça agora.
350
– Quinta nota.
A alma que deseja progredir na vida espiritual, deve sempre proceder de maneira
contrária à do inimigo [319, 351], a saber: se o inimigo quer embotá-la, a alma
deve procurar tornar-se mais delicada; e também se o inimigo procura afiná-la,
para a levar ao excesso, a alma procure consolidar-se no meio termo, para
totalmente se tranquilizar.
351
– Sexta nota.
Quando essa boa alma quiser dizer ou fazer alguma coisa, em conformidade com a
Igreja, e com as tradições dos nossos maiores, que seja para glória de Deus
nosso Senhor, e lhe vem de fora um pensamento ou tentação para não dizer nem
fazer essa coisa, trazendo-lhe razões aparentes de vanglória ou de outra coisa,
etc., então deve elevar o pensamento para o seu Criador e Senhor; e se vê que
essa palavra ou ação é para seu devido serviço, ou ao menos não lhe é
contrária, deve agir de maneira diametralmente oposta a essa tentação, e como S.
Bernardo responder ao inimigo: "nem o comecei por ti, nem por ti o
acabarei".
352 –
Para o verdadeiro sentido que devemos ter na igreja militante, guardem-se as
regras seguintes:
353
– Primeira regra.
Deposto todo o juízo próprio, devemos ter o espírito preparado e pronto para
obedecer em tudo à verdadeira Esposa de Cristo, nosso Senhor, que é a nossa santa
Mãe a Igreja hierárquica. [170].
354
– Segunda regra.
Louvar a confissão ao sacerdote e a recepção do Santíssimo Sacramento, uma vez
no ano, e muito mais, em cada mês, e muito melhor, de oito em oito dias, com as
condições requeridas e devidas. [18].
355
– Terceira regra. Louvar
a assistência frequente à missa, e igualmente cantos, salmos e longas orações,
na igreja e fora dela; e também a determinação de horas destinadas para todo o
ofício divino e para toda a oração e todas as horas canônicas.
356
– Quarta regra.
Louvar muito a vida religiosa, a virgindade e a continência, e não louvar tanto
o matrimônio como nenhuma destas. [14,15].
357
– Quinta regra.
Louvar os votos religiosos, de obediência, pobreza e castidade e de outras
perfeições. É de notar que, como os votos se fazem sobre coisas que se
aproximam mais da perfeição evangélica, não se devem fazer de coisas que nos
apartam dessa perfeição, como de ser comerciante ou de casar-se, etc.
358
– Sexta regra.
Louvar as relíquias dos Santos, venerando-as a elas e rezando-lhes a eles.
Louvar estações, peregrinações, indulgências, jubileus, bulas da cruzada e
velas acesas nas igrejas.
359
– Sétima regra.
Louvar constituições sobre jejuns e abstinências, como as da quaresma, das
quatro têmporas, vigílias, sexta e sábado; e também as penitências, não somente
internas, mas também externas. [82].
360
– Oitava regra.
Louvar os ornamentos e os edifícios das igrejas e também as imagens e venerá-las
pelo que representam.
361
– Nona regra.
Louvar finalmente todos os preceitos da Igreja, tendo prontidão de espírito
para buscar razões para os defender, e, de modo nenhum para os criticar.
362
– Décima regra.
Devemos ser mais prontos para aprovar e louvar tanto as diretrizes e recomendações
como o comportamento dos nossos Superiores do que para os criticar. Porque,
mesmo que a conduta de alguns não fosse tal como deveria ser, falar contra ela,
ou em pregações públicas ou em conversas, na presença de simples fiéis,
originaria mais críticas e escândalo do que proveito. E assim, o povo viria a
irritar-se contra os seus superiores, quer temporais quer espirituais. De
maneira que assim como é prejudicial falar mal dos Superiores, na sua ausência,
diante do povo humilde, assim pode ser proveitoso falar da sua má conduta às
pessoas que lhes podem dar remédio. [41].
363
– Décima primeira regra. Louvar a doutrina positiva e escolástica, porque
assim como é mais próprio dos doutores positivos, tais como S. Jerónimo, S.
Agostinho e S. Gregório, etc. mover os afetos, para em tudo amar e servir a Deus,
nosso Senhor, assim é mais próprio dos escolásticos, tais como S. Tomás, S.
Boaventura e o Mestre das Sentenças, etc., definir ou explicar para os nossos
tempos [369], as coisas necessárias à salvação eterna, e refutar e explicar
mais todos os erros e todos os sofismas. Porque os doutores escolásticos, como
são mais modernos, não só se aproveitam da exata inteligência da Sagrada
Escritura e dos Santos Doutores positivos, mas ainda iluminados e esclarecidos
pela graça divina, ajudam-se também dos concílios, cânones e constituições da
nossa Santa Mãe Igreja.
364
– Décima segunda regra. Devemos evitar fazer comparações entre os que
estamos vivos e os bem aventurados de outrora. Porque não pouco nos enganamos
neste ponto, quando dizemos, por exemplo: "Este sabe mais que Santo
Agostinho é outro ou mais que São Francisco, é outro São Paulo, em bondade, em
santidade, etc". [2].
365
– Décima terceira regra. Para em tudo acertar, devemos estar sempre
dispostos a que o branco, que eu vejo, acreditar que é negro, se a Igreja
hierárquica assim o determina. Porque creio que entre Cristo, nosso Senhor,
esposo, e a Igreja, sua esposa, não há senão um mesmo Espírito que nos governa
e dirige para a salvação das nossas almas. Porque é pelo mesmo Espírito e
Senhor nosso, que nos deu os dez mandamentos que é dirigida e governada a nossa
Santa Mãe Igreja.
366
– Décima quarta regra. Embora seja muita verdade que ninguém se pode
salvar sem ser predestinado, e sem ter a fé e a graça, contudo deve-se ter muito
cuidado no modo de falar e de se expressar sobre todas estas coisas.
367
– Décima quinta regra. Habitualmente não devemos falar muito de
predestinação; mas se, de alguma maneira e algumas vezes, se falar, faça-se de
maneira que o povo simples não venha a cair nalgum erro, como acontece, algumas
vezes, ao dizer: "se tenho de me salvar ou condenar, já está determinado,
e não é por eu fazer bem ou mal que pode acontecer outra coisa. E assim
relaxam-se e descuidam as obras que conduzem à salvação e ao proveito espiritual
de suas almas".
368
– Décima sexta regra.
Da mesma forma, devemos acautelar-nos de que, ao falar muito da fé, e com muita
insistência, sem alguma distinção e explicação, não demos ao povo ocasião de
ser desleixado e preguiçoso nas obras, quer antes da fé ser informada pela caridade
quer depois.
369
– Décima sétima regra. Também não devemos falar tão abundantemente nem com
tanta insistência, da graça que se gere o veneno de suprimir a liberdade. De
maneira que da fé e da graça pode falar-se, quanto seja possível, com ajuda da graça
divina, para maior louvor de sua divina majestade, mas não de tal forma e com tais
modos, sobretudo nos nossos tempos tão perigosos, que as obras e o livre
arbítrio sofram algum prejuízo ou sejam tidos por coisa de nenhuma importância.
370
– Décima oitava regra. Embora devamos estimar, sobretudo o serviço intenso
de Deus, nosso Senhor, por puro amor, devemos, contudo louvar muito o temor de
sua divina Majestade [65]. Porque não somente o temor filial é coisa piedosa e
santíssima, mas mesmo o temor servil, quando outra coisa melhor e mais útil não
se pode conseguir, ajuda muito a sair do pecado mortal. E, uma vez que se sai
dele, facilmente se chega ao temor filial que é totalmente aceite e agradável a
Deus, nosso Senhor, por ser inseparável do amor divino.
ALMA DE CRISTO, santificai-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me
Ó bom Jesus, ouvi-me.
Dentro de vossas chagas, escondei-me.
Não permitais que me separe de vós.
Do espírito maligno, defendei-me.
Na hora da morte, chamai-me, e mandai-me ir para
Vós,
para que com os vossos Santos vos louve, por todos
os séculos.
Amém.
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