sábado, 26 de novembro de 2016

Dos caminhos por onde com mais frequência vem um católico a cair

 -Padre Félix Sardá Y Salvani
(O Liberalismo é pecado, p. 125)

         São vários os caminhos por onde o fiel cristão cai frequentemente no erro do Liberalismo e importa sobremaneira discriminá-los aqui, assim para compreender em vista deles a razão da universalidade que atingiu esta seita, como para prevenir os incautos contra os seus laços e emboscadas.

         Muito frequentemente se cai na corrupção do coração pela perversão da inteligencia; é todavia mais frequente cair no erro da inteligência pela corrupção do coração. Assim o mostra claramente a história de todas as heresias. No princípio de todas elas se encontra quase sempre o mesmo: ou um ressentimento de amor-próprio, ou um agravo que se pretende vingar, ou uma mulher atrás da qual o heresiarca perde a cabeça e a alma, ou uma bolsa de dinheiro, pela qual vende a consciência. Quase sempre o erro dimana, não de profundos e trabalhosos estudos, mas daquelas três cabeças de hídra de que fala São João , e que ele chama: Concupiscentia carnis, concupiscentia oculorum, superbia vitae. Por este caminho se chega a todos os erros; por aqui se chega ao Liberalismo. Vejamos esses caminhos em suas forma smais usuais.

1º - Torna-se homem liberal pelo desejo natural de independência e vida livre. O Liberalistmo há de ser por necessidade simpático à natureza depravada do homem, assim como o Catolicismo lhe há de ser repulsivo por sua própria essência. O Liberalismo é emancipação; o Catolicismo é coerção. O homem caído ama, pois, por uma certa tendência muito natural um sistema que legitima e canoniza o orgulho da sua razão e o desenfreamento dos seus apetites. Donde, assim como a alma é naturalmente cristã em suas nobres aspirações, como disse Tertuliano, assim pode igualmente dizer-se que o homem pela viciação da sua origem nasce naturalmente liberal. É, pois, lógico que assim se declare formalmente, logo que comece a compreender que por esta forma lhe são garantidas todas as suas aspirações e desenfreamentos.

2º - Pelo desejo de figurar. O Liberalismo é presentemente a ideia dominantes. Reina em toda a parte e especialmente na esfera oficial. É pois recomendação segura para abrir carreira. Sai o jovem do lar doméstico, e olhando para os diferentes caminhos por onde se chega à fortuna, à nomeada e à glória, vê que em todos é condição necessária ser homem do seu século, ser liberal. Não sê-lo é criar a si próprio a maior das dificuldades. É, pois, preciso o heroísmo para resistir ao tentador, que como a Cristo no deserto, lhe diz mostrando-lhe risonho futuro: Haec omnia tibi dabo, se cadens adoraveris me: “Tudo te darei se prostrado me adorares”. E os heróis são poucos. É. Pois, natural que a maior porte da juventude comece a sua carreira filiando-se ao Liberalismo. Isto proporciona elogio nos periódicos, recomendação de poderosos patronos, fama de ilustrado e onisciente. O pobre ultramontano precisa de mérito cem vezes maior para dar-se a conhecer e criar nome. E na juventude é-se regularmente pouco escrupuloso. Além disto, o Liberalismo é essencialmente favorável à vida pública que a juventude tanto ama. Tem em perspectiva deputações, comissões, redações, etc., que constituem o organismo da sua máquina oficial. É, pois, maravilha de Deus e da sua graça encontrar-se um jovem que deteste tão insidioso corruptor.

3º - Pela cobiça. A desamortização foi e continua sendo a fonte principal de prosélitos para o Liberalismo. Decretou-se esta iníqua espoliação tanto para privar a Igreja destes recursos de humana influência, como para adquirir com eles adeptos fervorosos à causa liberal. Assim o confessaram seus próprios corifeus, quando os acusaram de haver dado quase de graça aos amigos as fartas rendas da Igreja. E ai do que uma vez comeu destra fruta da fazenda alheia! Um campo, uma herdade, umas casas, que foram do convento ou da paróquia, e estão hoje em poder de uma família, encadeiam para sempre esta família no erro liberal. Na maior parte dos casos não há provável esperança de que deixem de ser liberais nem ainda os descendentes dela. O demônio revolucionário soube colocar entre eles e a verdade essa insuperável barreira. Temos visto poderosas casas de lavradores do campo, católicos puros e fervorosos até 1835, e de então para cá liberais decididos e contumazes. Quereis a explicação? Vede aqueles regadios ou terras de pão, ou matas que foram do mosteiro. Com elas arredondou aquele lavrador a sua herdade, com elas vendeu a sua alma e a sua família à revolução. É moralmente impossível a conversão de tais injustos possuidores. Na dureza da sua alma, entrincheirada em suas aquisições sacrílegas, tropeçam todos os argumentos dos amigos, todas as invectivas dos missionários, todos os remorsos da consciência. A desamortização fez e está fazendo o Liberalismo. Esta é a verdade.

         Tais são as causas ordinárias de perversão liberal, e a elas podem reduzir-se todas as mais. Quem tiver medíocre experiência do mundo e do coração humano, dificilmente poderá indicar outras.


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