quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Por que nossas comunhões dão tão pouco fruto?


Cada Comunhão é uma graça que supera tudo que podemos conceber: Nosso Senhor Jesus Cristo vem em nós para tomar posse de nosso corpo e nossa alma, e assimilar-nos a Ele. E, portanto, toda Comunhão deveria nos tornar melhores, e nos dispor a receber ainda mais graças na Comunhão seguinte, pois nossas disposições serão mais fervorosas.

Lamentavelmente, não é isso o que se passa… ou é tão raro!

Pode-se buscar a razão disso na fraqueza das disposições que se leva à recepção do sacramento: negligência, desatenção, distração, falta de fervor, preparação malfeita, ação de graças minimalista; e é bem verdadeiro que isso só faz chumbar profundamente o benefício que retiramos da Santa Comunhão.

Mas há uma razão mais fundamental ainda, que mal se contempla. A Santa Comunhão é não somente a recepção de Jesus Cristo, ela é também a participação perfeita no Seu Sacrifício, ela é a recepção do fruto do Sacrifício: na medida em que nos oferecemos a nós mesmos a Ele, para que Ele nos ofereça n’Ele a Seu Pai, nós recebemos o fruto desse oferecimento.

Esse oferecimento de nós mesmo, essa união sacrifical com Jesus Cristo, é no momento do Ofertório que devemos realizá-la. O Ofertório é nosso sacrifício, aquele em que nos entregamos a Jesus Cristo para que Ele nos integre no SeuSacrifício, que Ele oferece no momento da dupla consagração.

Ora, no Ofertório estamos frequentemente “longe”: sentamo-nos confortavelmente, como se se tratasse de uma espécie de entreato da Missa; sendo que para nós esse deve ser o momento mais ativo, pois se trata de nos oferecer, se trata de nos imolar, de nos tornarmos em ato membros da Igreja oferente. O Ofertório é o momento em que Jesus Cristo une a Si o Seu Corpo místico, para que seja a Sua Igreja (e, portanto, Ele conosco) que oferece o Sacrifício da Cruz realizado, renovado, tornado presente sobre o Altar.

É porque nós somos essa “Igreja sacrificante” que somos incensados durante o Ofertório. Quando o turiferário se apresenta diante de nós, de fato se pensa em levantar-se em razão da honra que nos é feita… enquanto que se está totalmente indiferente ao Orate Fratres no qual o sacerdote requer nossas orações para que mereçamos essa honra, para que ofereçamos de maneira agradável a Deus, eficazmente e santamente, o Sacrifício de Jesus Cristo.

E é porque assim fazemos parte de Jesus Cristo (é isso sermembro da Igreja) que nós somos atores do Sacrifício da Cruz (é isso o sacerdócio régio de que fala São Pedro). Mas, durante o Cânon, esse ator que nós somos é um atoradorante, um ator admirante, e pode sê-lo com toda a verdade e em todo o repouso, pois no Ofertório ele uniu-se ativamente a Jesus Cristo sacerdote e vítima, que Se torna realmente presente sobre o altar e que aí Se imola por nossos pecados. Unicamente o sacerdote ministerial é ativo, pois ele é instrumento de um ato sacramental; os fiéis estão absorvidos no Sacrifício (adoradores em espírito e verdade) porque eles são parte do sacerdote principal que é Jesus Cristo.

Essa economia da Santa Missa se reencontra na Santa Comunhão porque, como foi dito mais acima, ela é a participação perfeita no Seu Sacrifício, ela é a percepção do fruto do Sacrifício na medida em que nós somos oferecidos a Ele para que ele nos ofereça n’Ele e com Ele a Seu Pai.

Mas se nós estávamos “ausentes” no momento crucial da Missa (crucial para nós), compreende-se que nossa união com Jesus Cristo seja demasiado imperfeita: se não fazíamos parte ativa de Jesus Cristo sacerdote, é para nós mais difícil de nos unirmos com Jesus Cristo vítima. Para receber plenamente Jesus Cristo ofertado, mais vale estar plenamente unido a Jesus Cristo oferente.

Como consequência dessa ausência, vamos de Santa Missa em Santa Missa, de Comunhão em Comunhão, sem crescer na caridade, sem nos assemelhar mais a Jesus Cristo. Destarte, é toda a vida cristã que fica amortecida, lânguida, vacilante.

Assim também, e é bem triste, deixamos de enxergar a grande necessidade de assistir à Santa Missa o mais frequentemente possível; não enxergamos mais a necessidade de velar pela catolicidade da Missa mais que pela pupila de nossos olhos; tornamo-nos indiferentes a Jesus Cristo que realiza em Seu Corpo Místico “aquilo que falta à Sua Paixão”. Aquilo que falta à Sua Paixão não é uma insuficiência da virtude da Cruz; o que falta é a nossapresença: sem ela, a Paixão não nos será aplicada, a graça que purifica não nos será comunicada — ela que eleva e que prepara à glória futura. »

(Rev. Pe. Hervé BELMONT, Por que nossas comunhões dão tão pouco fruto?, excerto de: Tant qu’il fait jour[Enquanto é dia], blogue Quicumque, 16 de março de 2013).

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