Monsenhor Fellay é o superior da Fraternidade fundada por Monsenhor Lefebvre. Ele volta à Nouvelles de France para falar sobre as tentativas de aproximação da Fraternidade com Roma que marcaram o pontificado de Bento XVI.
«Nouvelles de France» reivindica para si a definição de «liberal-conservadora».
Monsenhor, o senhor apreciaria o fato de que o último grande ato do pontificado de Bento XVI pudesse ser a reintegração da Fraternidade Sacerdotal São Pio X?
Por um breve instante, pensei que, anunciando sua demissão, Bento XVI teria um último gesto para conosco como Papa. Não obstante, vejo muito difícil que isto possa ser possível. Haverá que esperar provavelmente o próximo Papa. Inclusive lhe direi, a risco de surpreendê-lo, que haja problemas mais importantes para a Igreja que o da Fraternidade, e de certa maneira, ao se solucionar, o problema da Fraternidade se solucionará.
Note-se que Monsenhor Fellay não rechaça os termos “apreciaria” e “reintegração” e não exclui um gesto de Bento XVI neste sentido, mesmo que ache difícil que este gesto aconteça. O gesto para a reintegração terá que esperar provavelmente até o seguinte Papa para que aconteça. Está implícito que Monsenhor Fellay “apreciaria” tal gesto.
Qual foi o quid da advertência de Monsenhor Lefebvre em 1989?
“O que pode parecer uma concessão não é na realidade senão uma manobra para tirar de nós o maior número de fiéis. Com esta perspectiva é que parecem conceder, cada vez um pouco mais e ir mais longe. Mas há que se convencer absolutamente aos fiéis de que se trata de uma manobra, que é um perigo colocar-se nas mãos dos bispos conciliares e de Roma modernista. É o maior perigo que ameaça. Se temos lutado durante 20 anos para evitar os erros conciliares, não é para colocarmos agora nas mãos de quem os pratica”.
Ou de seu desejo de não querer ter nada a ver com a Igreja conciliar?
Somos “suspensos a divinis” pela Igreja Conciliar e desde a Igreja Conciliar, da qual não queremos ter parte. (Julho 29 de 1976, Reflexões sobre a Suspensão a divinis) “Nós não pertencemos a esta religião. Nós pertencemos a religião antiga, a religião Católica, não a esta religião universal como é chamada agora. Já não é a religião Católica...” (Sermão de 29 de Junho de 1976).
“Estaria muito feliz de ser excomungado desta Igreja Conciliar... É uma Igreja que eu não reconheço. Eu pertenço a Igreja Católica”. (Minute 30 Julho de 1976)
A qual foi também a posição da FSSPX em seu conjunto:
“Nós nunca quisemos pertencer a este sistema que se qualifica a si mesmo de Igreja Conciliar. Ser excomungado por um decreto de Vossa Eminência... não seria mais que a prova irrefutável de que não o somos. Não pedimos nada melhor que ser declarados ex-communione... excluídos da comunhão ímpia com os infiéis”. (Carta aberta ao Cardeal Gantin, 6 de Julho de 1988)
Monsenhor Fellay então considera que a FSSPX é “um problema para a Igreja”. Ele repete a nova tendência oficial da FSSPX de não distinguir a Igreja Conciliar da Igreja de Cristo.
Alguns dizem que o senhor deseja que Roma reconheça o rito ordinário como ilícito. Poderia esclarecer-nos este ponto?
Estamos muito conscientes que é muito difícil pedir as autoridades uma condenação da nova missa. Na realidade, se o que deve ser corrigido o for, seria um grande passo.
“O Novus Ordo Missae, mesmo quando é dito com piedade e respeito pelas regras litúrgicas... está impregnado com o espírito do Protestantismo. Leva em si um veneno perigoso para a fé”. Carta aberta aos Católicos Perplexos, Monsenhor Lefebvre.
Como pode ser corrigido algo que é intrinsicamente venenoso? Há mesmo de dois meses, Monsenhor Fellay qualificou a Missa do Novus Ordo como má. Devemos coabitar com o mal? É moralmente lícito fazê-lo?
Como é isso?
Isso pode ser realizado por uma instrução da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Afinal de contas não é tão complicado. Eu penso que haja trocas importantes a efetuar a causa das graves e perigosas deficiências que fazem este rito ser condenável. A Igreja pode efetuar muito bem essas importantes correções sem ficar mal ou perder sua autoridade. Mas atualmente noto a oposição de uma parte dos bispos católicos às legítimas ordens do papa de corrigir, no cânon da missa, a tradução do “pro multis” por “por muitos” e não “por todos”, tradução falsa que encontramos em muitos idiomas.
“...o Novus Ordo Missae – considerando-se os novos elementos amplamente suscetíveis a muitas interpretações diferentes que estão nela subentendidas ou implícitas – se afasta de modo surpreendente, tanto em conjunto quanto nos detalhes, da teologia católica da Santa Missa tal qual formulada na sessão 20 do Concílio de Trento...
É evidente que o novo Ordo Missae renuncia de fato ser a expressão da doutrina que definiu o Concílio de Trento como de fé divina e católica, ainda que a consciência católica permanece vinculada para sempre a esta doutrina.
Faria falta um trabalho mais amplo para estabelecer uma avaliação completa dos obstáculos, perigos e elementos destrutores, tanto espiritual como psicologicamente, que contém o novo rito.
(CARDENAL OTTAVIANI, BREVE EXAMENE CRÍTICO DO N.O.M.)
Como é o que os Cardeais Ottaviani e Bacci fizeram eco a Monsenhor Lefebvre e De Castro Mayer, ao falarem da nova missa como “um distanciamento impressionante da teologia católica” e que inclusive uma “avaliação” de seus erros necessitaria um “trabalho mais amplo”, mas para Monsenhor Fellay “afinal de contas não é tão complicado” corrigir essa missa?
Deseja voltar sobre o Vaticano II?
No que concerne ao Vaticano II, como na missa, nós estimamos que seja necessário clarificar e corrigir certo número de pontos que são errôneos ou que conduzem ao erro. Não obstante, não esperamos que Roma condene o Vaticano II em pouco tempo. Ela pode recordar a Verdade, corrigir discretamente os erros salvaguardando sua autoridade. Contudo, nós pensamos que a Fraternidade fornece sua pedra ao edifício do Senhor denunciando certos pontos litigiosos.
“Cremos poder afirmar, atendo-nos à crítica interna e externa do Vaticano II, ou seja, analisando os textos e estudando os pormenores deste concílio, que este, ao dar as costas à tradição e romper com a Igreja do passado, é um Concílio cismático.” (Le Figaro, 4 de agosto de 1976).
“A Igreja que afirma tais erros é tanto cismática como herética. Esta Igreja Conciliar portanto, não é católica. (Julho 29 de 1976, Reflexões sobre a Suspensão a Divinis)
Esta Reforma, por ter surgido do liberalismo e do modernismo, está completamente empeçonhada, surge da heresia e acaba na heresia, ainda que todos os seus atos não sejam formalmente heréticos. É, pois, impossível para todo o católico consciente e fiel adotar esta reforma e submeter-se a ela de qualquer modo que seja. A única atitude de fidelidade à Igreja e à doutrina católica, para bem da nossa salvação, é uma negativa categórica à aceitação da Reforma. (Declaração de 21 de Novembro de 1974)
Portanto, Monsenhor Fellay vê somente “certo número de pontos que são, ou erros ou que conduzem ao erro” e crê que podem ser corrigidos “discretamente”?
Concretamente, o senhor sabe bem que suas reinvindicações não serão satisfeitas de um dia para o outro.
Certamente, mas progressivamente o serão, eu penso. Chegará um momento onde a situação será aceitável e poderemos estar de acordo, ainda que hoje mesmo não parece ser o caso.
A única base para um acordo é essa:
Interrogá-los-ei no plano doutrinal: Estão de acordo com as grandes encíclicas de todos os papas que vos precederam? Estão de acordo com a Quanta Cura de Pio IX, Immortale Dei e Libertas de Leão XIII, Pascendi de Pio X, Quas Primas de Pio XI, Humani Generis de Pio XII? Estão em plena comunhão com esses papas e com suas afirmações? Aceitais ainda o juramento anti-modernista? São a favor do reino social de Nosso Senhor Jesus Cristo? Se não aceitam a doutrina de seus predecessores, é inútil falar. Enquanto não tiverem aceitado reformar o Concílio considerando a doutrina desses papas, não há diálogo possível. É inútil dialogar.” (Fideliter, nº 66, novembro de 1988, p. 12-13)
O senhor ainda está de acordo com esta declaração, Sua Excelência Monsenhor Fellay?
O senhor teve uma entrevista com Bento XVI em seus primeiros meses de pontificado. Poderia dizer-nos qual foi seu sentimento em tal momento?
Posso dizer que me encontrei com um Papa que tinha um desejo sincero de realizar a unidade da Igreja, mesmo se não chegamos a estar de acordo. Mas creia-me que peço por ele todos os dias.
Qual unidade? A única unidade meritória é a unidade na fé. Bento XVI nunca deixou de expressar sua fé e seu desejo que a Igreja abrace o espírito do Concílio que “sai da heresia e desemboca na heresia”. Devemos aplaudir este “desejo sincero” ou devemos evitá-lo?
Qual foi, para o senhor, o ato mais importante de seu pontificado?
Eu penso que sem lugar para dúvidas, o ato mais importante foi a publicação do Motu Proprio Summorum Pontificum que lembra os sacerdotes do mundo inteiro a liberdade de celebrar a missa tradicional. Fê-lo, há que dizer, com valor, porque tinha oposições. Eu penso que este ato trará frutos muito positivos em longo prazo.
Art. 1. O Missal Romano promulgado por Paulo VI deve ser considerado como a expressão ordinária da lei da oração (lex orandi) da Igreja Católica de Rito Romano, enquanto que o Missal Romano promulgado por São Pio V e publicado novamente pelo Beato João XXIII como a expressão extraordinária da lei da oração ( lex orandi) e em razão de seu venerável e antigo uso goze da devida honra. Estas duas expressões da lei da oração (lex orandi) da Igreja de maneira nenhuma levam a uma divisão na lei da oração (lex orandi ) da Igreja, pois são dois usos do único Rito Romano. Summorum Pontificum
Como podem sair frutos positivos de um ato pontifical que oficialmente mescla o rito tridentino da Santa Missa com o venenoso Novus Ordo? Quaisquer que sejam as aparências de Tradição em qualquer de seus frutos, não estarão sempre presentes os perigos de uma intoxicação perigosa?
Não é perigoso e subversivo louvar incondicionalmente ao Papa por publicar tal ato sem sublinhar o veneno que contém?
Igualmente, Monsenhor Fellay expressa sua gratidão ao mesmo Papa por suprimir os efeitos das sanções canônicas aplicadas a seus bispos depois das consagrações de 1988. (Comunicado de Menzigen, 11 de Fevereiro de 2013). (Erroneamente traduzido ao inglês, já que o texto original em francês disse: supprimer les effets des sanctions canoniques portées contre ses évêques, à la suite des sacres de 1988, e a tradução em inglês: to do away with the canonical sanctions that had been imposed on its bishops following their consecration in 1988). Não se acreditou sempre que estas sanções são inválidas e portanto se requer uma anulação e não um mero levantamente de seus efeitos?
Traduzido de: http://nonpossumus-vcr.blogspot.com.br/2013/02/comentarios-de-la-entrevista-de.html
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