sábado, 2 de março de 2013

Carta aberta à Mons. Fellay por 37 sacerdotes do Distrito da França - Traduzido para Português.


Tradução: Professor Rafael Horta - Capela Cristo Rei de Ipatinga.

Postado em 28 de fevereiro de 2013

À Monsenhor  Fellay

Excelência,

Como o senhor escreveu recentemente “os laços que nos unem são essencialmente sobrenaturais”. Entretanto, o senhor estava atento para nos lembrar de que, a justo título, as exigências da natureza não devem ser esquecidas. “A graça não destrói a natureza”. Entre estas exigências, há a veracidade. Ora, somos obrigados a constatar que uma das partes dos problemas aos quais fomos confrontados nesses últimos meses vem de uma falta graves a essa virtude.
Há dez anos, dizíeis como Monsenhor Tissier de Mallerais:
“Jamais eu aceitarei dizer: ‘No Concílio, se o interpreta bem, talvez possa ser, que se poderia fazer uma correspondência com a Tradição, se poderia encontrar um sentido aceitável’. Jamais aceitarei disser isso. Isso seria uma mentira e não é permitido dizer uma mentira, mesmo em se tratando de salvar a Igreja.” (Gastines, 16 de setembro 2012).


Mas depois mudaste o tom da escrita:
“A inteira Tradição da fé católica deve ser o critério e o guia de compreensão dos ensinamentos do Concílio Vaticano II, o qual, por sua vez, esclarece certos aspectos da vida e da doutrina da Igreja, implicitamente presentes nela, não ainda formulados. As afirmações do Concílio Vaticano II e do Magistério Pontifical posterior relativos a relação entre a Igreja Católica e as confissões cristãs não católicas devem ser compreendidas à luz da Tradição inteira.” (St-Joseph-des-Carmes, 5 de junho de 2012)


Em Brignoles, em maio de 2012, falastes deste documento que “convinha à Roma” mas que “seria preciso explicar entre nós que há declarações que estão de tal modo sobre uma rachadura que se os senhores estiverem mal posicionados ou se estiverem de óculos escuros ou rosas, podem ver de um jeito ou de outro”. Depois, se justificaste da seguinte maneira:
“Se podemos aceitar ser ‘condenados’ por nossa rejeição ao modernismo (que é verdade), nós não podemos aceitar de o ser por que nós aderimos a teses sedevacantistas (isto é falso), foi isso que me conduziu a redigir um texto ‘minimalista’ que só abordava um dos dois dados e que, por este fato, pode causar confusão entre nós.” (Cor Unum 102)
 “Este texto, evidentemente, que eu o escrevi, pensava que ele era suficientemente claro, que tinha conseguido suficientemente evitar os...como que se diz?...as ambiguidades. Mas...infelizmente os fatos estão ai e sou obrigado a reconhecer que este texto veio a ser um texto que nos dividiu na Fraternidade. Este texto, evidentemente, o retiro.” (Ecône, 7 de setembro de 2012)


O senhor foi um incompreendido que, por condescendência, retiraste um texto delicadíssimo que os espíritos estreitos foram incapazes de compreender. Esta versão dos fatos é hábil, mas é justa? Retirar um documento e retratar um erro doutrinal não são formalmente a mesma coisa. A mais, invocar as “teses sedevacantistas” para justificar este documento “minimalista” que “convinha a Roma” parece muito fora do lugar quando, ao mesmo tempo, e desde há treze anos, autorizastes um de nossos confrades a não mais citar o nome do papa no Canon depois de lhe ter confiado que compreendíeis sua escolha diante da escandalosa assinatura de um documento comum entre Católicos e Protestantes.


Mons. Tissier de Mallerais confiava a um confrade que esta “carta de 14 de abril” não deveria jamais ser publicada, por que, segundo ele, “serieis definitivamente desacreditado e provavelmente levado a pedir demissão.” Isto que confirma o conselho de Mons. Willamson: “para a glória de Deus, para a salvação das almas, para a paz interior da Fraternidade e por vossa própria salvação eterna, faríeis melhor em pedir demissão como Superior Geral que de me excluir.” (Londres, 19 de outubro de 2012). Entretanto, tomastes aquilo por uma provocação aberta e publica.
Mas quando Mons. De Galarreta declara em 13 de outubro de 2012 em Villepreux, esta frase inacreditável que se pode ouvir, mas não ler por que a transcrição on-line de La Porte Latine a omitiu: “É quase impossível que a maioria dos Superiores da Fraternidade – depois de franca discussão, analisaram a fundo todos os aspectos, de todos os pontos e, chegando a uma conclusão que é impensável que a maioria se engane em uma matéria prudencial. E se isso por acaso, esse impossível aconteça, tanto faz, de qualquer modo será feito como a maioria pensa”, em Menzingen, o Secretário Geral, o padre Thouvenot, escreveu que ele “expunha cautela e elevação os acontecimentos de junho último”.


Como pôde a Fraternidade cair tão baixo? Mons. Lefebvre escrevia: “No dia do julgamento, Deus nos perguntará se fomos fiéis e não se fomos obedientes a autoridades infiéis. A obediência é uma virtude relativa à Verdade e ao Bem. Não seria mais uma virtude, mas um vício se ela se submete ao erro e ao mal.” (Mons. Lefebvre, carta de 9 de agosto de 1986).

Por ocasião da conferencia de 9 de novembro em Paris, um prior vos perguntou: “à saída do retiro sacerdotal dois confrades me acusaram de estar em revolta contra vossa autoridade por que eu manifestava, a respeito do texto do padre Caqueray contra Assis III. Quem são eles? Vossa resposta foi: “Eu ignorava que se passava coisas assim na Fraternidade. Foi a mim que se pediram essa declaração. Alias, ela foi publicada com minha autorização. Estou absolutamente de acordo com o padre Caqueray.” Ora, durante o retiro das irmãs em Ruffec, confiastes a seis confrades que não podias estar de acordo com o texto do padre Caqueray. O senhor reclamava das reprovações que o cardeal Levada, durante 20 minutos, lhe fez sobre esse assunto. Se o senhor lhe deu a autorização para a publicação era, explicava, para não parecer parcial...mas que pessoalmente desaprovava o conteúdo e o achava excessivo. Quem, pois, Monsenhor, utiliza meios “forçadamente subversivos”? que é pois revolucionário? Quem enegrece o bem comum de nossa sociedade.


Em 9 de novembro em Paris, nós ouvimos um confrade vos perguntar: “Eu faço parte daqueles que perderam a confiança! Quantas linhas de conduta há na Fraternidade agora...” O senhor respondeu: “É uma grave ferida. Sofremos uma grande prova. Será preciso tempo.” Diante dessa resposta flutuante, um outro prior vos perguntou então: “Recusastes vossa resposta à vossos três bispos confrades...” Vossa resposta foi de novo flutuante: “Sim, quando eu a reli, me parece que havia alguns pequenos erros. Mas, com efeito, para vos ajudar a compreender, saibais que esta carta não foi uma resposta à suas correspondência mas a dificuldades que eu tive com eles separadamente. Eu estimo muito Mons. Willamson, mesmo o admiro. Há muitas jogadas de gênio na luta contra o Vaticano II e é uma grande perda para a Fraternidade que chega a seu pior momento...” Mas que é pois responsável por sua exclusão? Em privado, dissestes muitas coisas: “Eu estava em guerra”, “Roma mente”...mas jamais publicastes um menor Comunicado Oficial para denunciar essas mentiras. Pior, recentemente, a propósito do ultimatum de 22 de fevereiro, o senhor endossou oficialmente a mentira do Vaticano.
Vossa linguagem se tornou interminavelmente confusa. Esta maneira ambígua de se exprimir não é louvável como escrevia o Padre Calmel: “Sempre tive horror a expressões moles e flutuantes, que podem ser arrastadas para todos os sentidos, as quais cada um pode fazer e dizer o que quiser com elas. E elas me causam ainda mais horror quando são cobertas por autoridades eclesiásticas. Sobretudo essas expressões me parecem uma injuria direta Àquele que disse: “Eu sou a Verdade...Vós sois a luz do mundo...Que vossa palavra seja sim, sim, não, não.”

Monsenhor, vós e vossos Assistentes fostes capazes de dizer tudo e se contradizer sem medo do ridículo.


O padre Nély, em abril de 2012, de passagem em Toulouse declarava a uma dúzia de confrades que “se as relações doutrinais com Roma falharam é por que nossos teólogos entraram muito dentro”, mas ele dizia a um de seus teólogos: “Poderia ter sido mais incisivo.” 


Vós mesmo, em 9 de novembro de 2012, nos afirmastes: “Eu vos farei rir, mas penso verdadeiramente que nós, os quatro bispos, somos da mesma opinião.” Então que seis meses antes lhes escrevia: “A questão crucial entre todas, aquela da possibilidade, aquela da possibilidade de sobreviver nas condições de um reconhecimento da Fraternidade por Roma, não chegamos a mesma conclusão que vós.”


Na mesma conferencia do retiro de Ecône, declaraste: “Eu vos confesso que não estimei ir contra o Capítulo (de 2006) fazendo o que eu fiz.” Depois de alguns instantes a respeito do Capítulo de 2012: “Se é Capítulo que trata, é uma lei que vale até o próximo Capítulo.” Quando se sabe que em março de 2012, sem esperar o próximo Capítulo, destruíste a lei de 2006 (sem acordo prático sem solução doutrinal), se interroga sobre a sinceridade do propósito.


Um de vossos confrades no episcopado em Villepreux nos convidava a “não dramatizar. O drama seria o de abandonar a Fé. Não é preciso pedir uma perfeição que não é deste mundo. Não é preciso plainar sobre essas questões. É preciso ver se o essencial está ou não ai.
É verdade, o senhor não se tornou muçulmano (1° mandamento), não tomaste uma mulher (6° mandamento), o senhor simplesmente desdenhou da realidade (8° mandamento). Mas o essencial está sempre ai quando as ambiguidades tocam o combate da fé? Ninguém vos pede uma perfeição que não é desse mundo. Se pode bem imaginar que se engane diante do mistério da iniquidade, pois até mesmo os eleitos poderiam ser enganados, mas ninguém pode aceitar uma linguagem dúbia. Certamente, a grande apostasia, prevista pela Sagrada Escritura, não pode nos atormentar. Quem pode estar ileso às ciladas do Diabo? Mas por que nos ter enganado? À todo pecado misericórdia, claro. Mas onde estão os atos que manifestam a consciência, o arrependimento e a reparação dos erros?


Vós dissestes diante dos priores da França: “Estou cansado das querelas de palavras”. Ai está talvez o problema. Quem vos impede de ir repousar em Montgardin e de ai aproveitas das alegrias da vida escondida? Roma sempre utilizou uma linguagem clara. Mons. Lefebvre igualmente. Vós também, no passado. Mas hoje, vos deixais arrastar por uma confusão na identificação “A Igreja Católica, a Roma Eterna” e “A Igreja oficial, a Roma modernista e conciliar”. Ora, em nenhum caso, poderias mudar a natureza de nosso combate. Se o senhor não quiser mais se entregar a esta missão, vós deveis, do mesmo modo que vossos assistentes, renunciar ao cargo que a Fraternidade vos confiou.



Com efeito, o padre Pfluger disse publicamente sofrer com a irregularidade canônica da Fraternidade. Ele confiou a um confrade em junho de 2012: “Ter sido abalado pelas discussões doutrinais.” Saindo de sua conferencia em Saint Joseph des Carmes ele dizia de maneira desprezível a quem quisesse ouvir: Dizer que há ainda quem não compreende que é preciso assinar”. Em 29 de abril de 2012, em Hattersheim, depois de ter confessado que “os acontecimentos passados provaram que as diferenças concernentes a questão doutrinal não podem ser resolvidas”, e deixava claro seu temor “de novas excomunhões”. Mas como se pode temer ser excomungados por modernistas que já estão excomungados pela Igreja?


O padre Nély, pela ocasião de uma refeição para os benfeitores em Suresnes anuncia que “o Papa tinha colocado um termo nas relações com a Fraternidade pedindo o reconhecimento da nova Missa e do Vaticano II...” acrescentava “Mons. Fellay estava sobre sua pequena nuvem e que era impossível o fazer descer”. Mas o padre Nély, não assinou ele também a monstruosa carta aos três bispos? Não estava ele também sobre “sua pequena nuvem” quando, de passagem a Fanjeaux, declara à Superiora Geral, inquieta sobre o assunto do ultimatum de Roma: “Não vos inquieteis, tudo vai bem com Roma, seus canonistas nos ajudam a preparar os estatutos da prelatura...”


O senhor pode dizer, se foi consciente que o senhor e vossos assistentes assumiram vossas responsabilidades? Depois de tantos propósitos contraditórios e nefastos como pretendem ainda governar? Quem enegreceu a autoridade do Superior Geral, senão vós mesmo e vossos assistentes? Como pretende nos falar de justiça depois de tê-la deixado? "Qual verdade pode sair da boca de um mentiroso?" (Ecl 34,4). Quem semeou o joio? Quem foi subversivo usando mentiras? Quem escandalizou os padres e os fiéis? Quem mutilou a Fraternidade diminuindo sua força episcopal? Que pode ser a caridade sem honra e sem justiça? 


Nós sabemos que chamarão nossa atenção por não termos respeitado as formas vos escrevendo assim publicamente. Nossa resposta será a mesma do Padre Foucauld ao General Laperrine: "Eu acreditava, ao entrar na vida religiosa que teria que aconselhar sobretudo a doçura e a humildade; com o tempo, eu crio que falta mais continuamente e a dignidade e a honra." (Carta de 6 de dezembro 1915). E o que adiantaria vos escrever em privado quando se sabe que um confrade corajoso e lúcido teve que esperar quatro anos para ter uma resposta vossa e isso não foi para ler respostas, mas sim injurias. Quando um Superior de Distrito espera sempre o acusado de receptar sua carta de dezessete paginas enviada a Casa Geral, parece que Menzingen não tem outros argumentos senão o voluntarismo: "sic volo, sic jubeo, sit pro ratione voluntas".


Monsenhor, isto que vivemos nesse momento e odioso. La retidão evangélica foi perdida: Sim, sim, não, não. O Capítulo de 2012 não esclareceu nada da situação. O padre Faure, em capitular, nos colocou recentemente em guarda publicamente contra "as cartas e declarações dos atuais superiores da Fraternidade nesses últimos meses? Um outro capitular confiou a um confrade: "É preciso reconhecer que o Capitulo falhou. Hoje é OK para a Fraternidade livre dentro da Igreja conciliar. Fique chocado com o nível de reflexão de certos capitulares. "


Vossas intervenções e aquelas de vossos assistentes são duvidosas e deixam crer que vós não operastes senão um simples recuo estratégico.
Final de 2011, um Assistente junto com um confrade "acordista" tinha procurado estimar o número de padres, na França, que recusariam um acordo com Roma. O resultado: sete. Menzingen estava segura. Em março de 2012, vós confiastes que M. Guenois do Jornal Le Figaro era um jornalista muito bem informado e que sua visão das coisas eram muito justas. Ora, seu artigo dizia: "Que vigiem ou não, o Papa e Mons. Fellay querem um acordo, não doutrinal, mas eclesial". Em maio de 2012, vós confiastes aos Superiores beneditinos, dominicanos e capuchinos: "Se sabe que haverá uma quebra, mas não irá até o fim". Em junho o acordo eclesial foi impossível. Portanto, em outubro de 2012, de passagem pelo priorado de Bruxelas, padres diocesanos, convidados pelo padre Wailliez, vos manifestaram o desejo de ver um acordo entre Roma e a Fraternidade. Vós os assegurastes por essas palavras: "Sim, sim. Isso vai se acontecer logo"? Isso aconteceu 3 meses após o Capítulo de julho.
Monsenhor, vós tendes o dever, em justiça de dizer a verdade, de reparar as mentiras e de retratar os erros. Faça os e tudo voltará a ordem. Vós sabeis como Santo André Avelino, no século XVI, se tornou um grande santo depois de ter tido vergonha de uma mentira que tinha dito por fraqueza. Nós queremos simplesmente que o senhor se torne um grande santo.
Excelência, nós não queremos que a História retenha que vós fostes o homem que desfigurou mutilou a Fraternidade Sacerdotal São Pio X.
Estejais seguro, Excelência, de nossa total fidelidade a obra de Mons. Lefebvre.
28 de fevereiro 2013,
Trinta e sete padres do Distrito da França

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