VIGÍLIA PASCAL
A Vigília Pascal é o cume do ano litúrgico. Sua celebração se realiza de noite; mas de maneira a não começar antes do início da noite e a terminar antes da aurora do Domingo.
Frutos da Ressurreição de Jesus Cristo
“Vós, que haveis sido instruídos na escola de Jesus, deveis ter aprendido a despojar-vos do homem velho e revestir-vos do homem novo, criado segundo Deus em justiça e santidade” (Ef 4, 21-24). O velho homem, de que fala o apóstolo, é esse composto de orgulho, amor próprio, egoísmo, sensualidade, más inclinações, instintos depravados, o qual vive em nós desde a queda original e que tende a submeter-nos a Satanás e ao pecado. Jesus Cristo morreu para dele nos libertar, e insiste conosco a que trabalhemos com Ele para a destruição deste mal.
O homem novo, de que fala ainda o apóstolo, é a nossa alma espiritual, regenerada em Jesus Cristo pela graça, ornada de virtudes e dons sobrenaturais, no afã de seguir as pegadas do divino Mestre pela vida de justiça e de santidade. Esse homem novo, que está dentro de nós, encontra em Jesus ressuscitado o seu apoio e o seu modelo; o seu apoio, contanto que procuremos em Jesus, pela oração, os princípios da vida sobrenatural que alimentam a nossa alma; o seu modelo, porque a ressurreição corporal do Redentor é o ideal, a causa exemplar da nossa ressurreição espiritual:“Portanto pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova. Porque se nos tornarmos uma coisa só com ele por uma morte semelhante à sua, seremos uma coisa só com ele também por uma ressurreição semelhante à sua” (Rm 6, 4-5).
Se, pois, morrermos a nós mesmos e ressuscitarmos assim com Jesus todos os dias do nosso exílio, teremos parte em seu triunfo e em sua beatitude. Como o patriarca José saiu outrora da prisão para reinar sobre o Egito, fazendo seus irmãos participantes da sua sorte, assim o Salvador ressuscitou glorioso do sepulcro para entrar pouco depois na sua glória e lá esperar os que, conformando-se com sua vida, merecerem ser chamados seus irmãos.
Desejamos esse belo título e os esplendores que o coroarão um dia? Neste caso, tomemos a resolução generosa: 1.° De sacudir o jugo das nossas paixões e de combater em nós a vaidade, o amor das comodidades e dos prazeres; 2.° De praticar de preferência as virtudes difíceis, as que exigem o sacrifício dos nossos defeitos ordinários, sobretudo da nossa paixão dominante.
“É Páscoa, a Páscoa do Senhor... Não figura, não história, não sombra, mas a verdadeira Páscoa do Senhor... Verdadeiramente, ó Jesus, livrastes-nos da grande ruína e nos estendestes as paternas mãos. Sob vossas paternas asas nos ocultastes. Vosso sangue divino derramastes na terra, para cumprir vossa aliança cruenta e cheia de amor pelos homens. Afastastes de nós as ameaças da ira do Altíssimo e nos restituístes a primitiva paz com Deus... Ó vós, que sois verdadeiramente só entre os sós e todo em todos! Acolham os céus o vosso espírito... mas o vosso sangue, possua-o a terra...
Ó Páscoa divina, que desces do céu à terra e da terra sobes, de novo, ao céu!... De todos és alegria, honra, alimento, delícia. Por ti foram dissipadas as trevas da morte, a todos estendeu-se a vida, abriram-se as portas do céu. Mostrou-se Deus como homem e o homem foi feito Deus...
Ó Páscoa divina, o Deus do céu, na sua generosidade, agora se une a nós no Espírito: por meio dele encheu-se a grande sala das bodas, e trazem todos a veste nupcial... Já não se apagarão as lâmpadas da alma. De modo divino e espiritual, em todos brilha, no corpo e na alma, a luz da graça, alimentada pelo óleo: Cristo.
Suplicamos-vos, ó Senhor Deus, Cristo, Rei eterno dos espíritos, estendei as divinas mãos sobre vossa Igreja, povo santo, sempre vosso! Defendei-o, guardai-o, conservai-o, e a todos os inimigos combatei, derrotai, submetei... Concedei-nos cantar com Moisés o cântico da vitória, porque vossa é a glória e o poder nos séculos!” (Santo Hipólito de Roma, Das orações dos primeiros cristãos, 44).
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