domingo, 15 de março de 2015

Lutero e as aparições do Diabo


Castelo de Wartburgo

Os dez meses de permanência no castelo de Wartburgo são uma página negra da vida do infeliz transviado. 

1. A PRETENSA MISSÃO DE LUTERO 

Vejamos o monge no castelo onde se refugiara. 

Isolado de todos, longe do bulício, separado maus companheiros que o excitavam, Lutero poderia arrepender-se e recuar, se disso fosse ainda capaz, repassando em espírito os acontecimentos tristes e desastrosos de que fora o causador. Tal, infelizmente não aconteceu ou melhor: só se verificou nos seus primeiros dias de exílio. 

Nas horas lentas e monótonas que se seguiram ouviu ele, a princípio, uma voz penetrante em si mesmo, tal o eco estridente dos corvos e corujas que cercavam a torre do Castelo e passavam diante da janela do seu quarto. 

"Quantas vezes”, declara ele próprio, “tremia de horror o meu coração, lançando-me em rosto este pensamento amargurante; apenas tu queres ser sábio? Todos os outros, então, estarão errados? E eles terão ficado no erro durante tantos séculos? Que será de ti, se estiveres errado, arrastando tanta gente ao erro e à eterna perdição?" (Obras Lut. Weimar, VIII. 411). 

Lutero não tinha a sinceridade nem a nobreza de sentimentos de uma Santo Agostinho, para se converter, condenar os seus erros e tornar-se um Serafim do amo de Deus, que refletiu, sob a moção da graça, sobre as palavras confortadoras: “quod isti e istae, cur non ego?” (o que puderam realizar estes e estas, por que não o conseguirei também?)... 

Lutero se encontrava no perigoso declive da revolta, descendo para o fundo do abismo... e o obcecado ânimo não lhe deixava mais ver outra coisa senão a idéia importuna a persegui-lo como um espírito maligno: - SÓ A BÍBLIA E SÓ A FÉ. 

A luta foi terrível entre a voz da consciência e os impulsos do orgulho. Em vez de ser favorável à primeira, forcejou impor-lhe silêncio. 

“Pude apenas, com os textos mais expressivos da Escritura”, escreve ele, “convencer a minha consciência de que era permitido resistir ao Papa, fazendo-o passar por anticristo, e considerar os Bispos como os apóstolos do anticristo, e as universidades como antros do pecado” 

Logo a soberba lhe abafava os remorsos de uma alma perturbada, persuadindo-o a julgar-se investido de uma missão divina, para reconquistar a liberdade do Cristianismo, escravizado pela Igreja Católica. 

Trata-se de uma verdadeira obsessão. Teria ele chegado a persuadir-se de fato ter um desígnio a cumprir neste mundo?... 

É possível, pois esta fato se dá, tanto em homens perversos, quanto entre pessoa santas. 

Átila intitulou-se e foi de verdade: o flagelo de Deus. Alexandre Magno, César e Napoleão estavam convictos de terem sido chamados por Deus, para conquista o mundo. Maomé, o histérico, com o qual Lutero, o possesso, possui muitos traços de semelhança, considerou-se um “profeta de Deus”, mandado para substituir por outra as religiões existentes. 

É, pois, admissível que o monge, dotado como era de imaginação ardorosa, de gênio turbulento, de atividade, dominada pelos nervos, deixando-se guiar pelo orgulho e pela confiança em seu valor pessoal, tenha chegado ao ponto de se dizer um “enviado de Deus”, para extirpar os abusos de sua época e promulgar a livre interpretação do Evangelho. 

Se não se pode estabelecer positivamente o fato, - pois a historia nos dá notícia de suas próprias dúvidas a respeito, - é permitido, entretanto, pensar que nos momentos de agitação tenha ele conseguido sufocar a voz da consciência, convencendo-se da realidade da sua missão libertadora, que se tornou para ele uma espécie de alucinação. 

APARIÇÕES DO DIABO 

Dois pontos sobressaem em Lutero, quando de sua permanência no castelo de Wartburgo: a sua idéia com relação ao demônio e as grandes tentações de que foi acometido. 

Em suas cartas a cada passo refere-se às suas relações com o diabo, enquanto ali esteve. Não só diz ele ter ouvido ali o demônio, no tremendo barulho que o parecia perseguir dia e noite, mas assevera tê-lo visto, sob a sensível aparência de um cão preto, dentro do seu quarto.. 

Deste espetáculo terrível Lutero nos dará uma idéia, mais tarde, em suas conversas de taberna: 

"Quando estava em meu Patmos”, diz ele, “tinha fechado, dentro dum armário, um saco de nozes de avelãs. Certa noite, apenas me deitara, começou um barulho infernal nestas novzes que, uma por uma, foram lançadas com força, contra as vigas do forro. Senti sacudirem-me a cama, e ouvi nas escadas um ruído, como se lançassem para baixo uma grande quantidade de vasos. Entretanto, a escada havia sido retirada, para ninguém poder subir ao meu quarto, estando presa à parede com uma corrente de ferro" (Wette Erl. 59 p.340), (FATO contado pelo próprio reformador em Eisleben, em 1546). 

O encontro do cão preto se deu em circunstâncias estranhas: o bicho teria procurado um lugar no leito de Lutero, que jeitosamente o teria retirado dali, jogando-o fora, através da janela, sem o menor ganido da parte do animal. Foi, parece, um diabinho manso e inofensivo que se deixou lançar assim para fora. Nada mais se pôde encontrar do cão, após a queda, nem mesmo vestígios. Lutero tinha a certeza de se tratar de um diabo, em carne, pelo e osso (Köstlin-Karveran I. 440, 1903). 

Referem ainda que um dia apareceu-lhe o demônio em pessoa, talvez para parabenizá-lo pela obra encetada, toda em benefício de satanás; nesta ocasião, tomado de horror e de medo, num acesso de raiva, teria Lutero jogado contra o demônio um tinteiro. A tinta não sujou a carapinha do capeta, mas foi o recipiente quebrar-se de encontro à parede, onde ficaram os sinais distintivos do seu conteúdo – uma grande mancha negra. 

Coburg e outros falam disto, mas Lutero, o único que poderia afirmar a realidade do fato, parece, a ele nunca se referiu. 

Que há de verdadeiro a respeito de tudo isso? 

É difícil dizer-se. Vistas, no entanto, as disposições e o estado anormal de Lutero, é crível não passasse de exaltação nervosa, de fantasia, de superstição. 

Seja como for, Lutero via demônios em toda parte. 

No opúsculo contra o duque de Brunswick, o demônio teve a honra de ser nomeado 146 vezes; no livro dos Concílio em 4 linhas fala Lutero 15 vezes a respeito de diabos. 

Os adversários da reforma têm o “coração satanizado e supersatanizado" 

Noutra parte ufana-se Lutero de nunca ter descontentado o príncipe das trevas que o acompanha sempre. 

Tal disposição doentia, aumentada pelo isolamento em que vivia, como pela lembrança dos últimos acontecimentos, da sua excomunhão pelo Papa, da condenação pelo Edito de Worms, dos perigos que o ameaçavam, da incerteza do futuro, tudo isto devia necessariamente aumentar a demasiada tensão dos nervos e exaltar a imaginação ardente. 

Seja como for, por certo estava ele com direito a uma aparição do espírito das trevas, a fim de parabenizá-lo pela obra diabólica de revolta que estava efetuando no mundo, e pela perdição de milhares de almas que tal empresa iria acarretar. 

Se o demônio não lhe apareceu, não é porque lhe tenha faltado vontade para tal, mas apenas porque Deus não permitiu.

(Trechos do livro 'O diabo, lutero e o protestantismo', Pe. Júlio Maria)

0 comentários:

Postar um comentário