PALE IDEAS
Vídeo de uma conversa do Rev. Pe. Cardozo, na Missão Cristo Rei de Campo Grande/MS, sobre como conheceu Monsenhor Lefebvre e, também, como e por que decidiu se tornar Padre. A gravação começa logo depois da pergunta de um dos fiéis que estavam presentes. E é interrompida com o fim da bateria. Sugiro que peçam que o Padre conte novamente as histórias e que gravem novamente.Toda vez, vale a pena e sempre tem uma nova luz, um detalhe precioso a mais.
O Padre já havia nos contado essas histórias, em outra visita, mas fizemos questão de ouvi-la de novo porque a maioria dos presentes era de jovens, em fase de decidir o futuro. Nunca é demais oferecer um tema de meditação para a vocação sacerdotal, ou religiosa. Por vezes, ser Padre é uma questão de lógica, não de sentimentos...
Enfim, aqui está o vídeo. Façam bom proveito.
Transcrição da palestra:
PE. CARDOZO CONTA COMO CONHECEU MONS. LEFEBVRE E COMO E POR QUE SE TORNOU PADRE.
Entre os quinze e os vinte e dois anos, eu era um fiel assíduo à missa todos os domingos. E nos outros dias não costumava ir, entre outras coisas por causa dos estudos. Porém aos domingos eu ia. E estava estudando Veterinária em Buenos Aires. E a paroquia mais próxima que eu tinha era uma paroquia que, por exemplo, a missa das onze não dava para ir. Porque?, porque saia com os nervos à flor da pele... Porque era a “missa da juventude”. E era uma bagunça absoluta esta coisa. E entre os sermões que eram políticos, as missas bagunçadas, a bateria, os beijinhos, todas essas coisas, cada dia estava mais farto das missas novas. Eu era o único que, enfim...
Até que um dia, me lembro que me ocorreu um domingo que não tive outra opção do que ir à missa das onze, da juventude. Bom, claro, começou a bagunça, etc. etc., e um aí, aguentando-se. E, ao momento da Comunhão, me coloco na fila para comungar e os meninos que estavam com o violão, tocando, tocaram (uma música) em ritmo de “cueca”. A “cueca” é uma dança folclórica argentino-chilena que é muito movimentada e muito bonita de dançar, é muito elegante de dançar. Eu dancei muita “cueca”. Mas eu percebia que essa coisa, aí, no momento prévio de receber a todo um Deus, não prestava. Eu percebi que estavam profanando com essa música um ato que era sagrado: o de receber a todo um Deus: Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor na Eucaristia.
Bem. E foi uma luta que eu tive até chegar ao Padre que estava dando a comunhão; entre que... se lhe rompia o violão na cabeça aos tontos que estavam tocando, se comungava, se não comungava, se armava um escândalo... Enfim, houve uma guerra interna aí; por fim, comunguei, e fui embora, e disse: nunca mais volto a uma missa dessa pois já estou farto!
E, em princípio, saí dessa igreja com a ideia de já não praticar mais a religião. Não porque deixara de crer, senão porque estava farto dessa bagunça. E percebia que havia uma profanação no templo. Quando Cristo expulsa os vendilhões do templo, os vendilhões estavam no átrio. Agora se pode dizer assim que os vendilhões estavam dentro, e fazendo mais bagunça que os vendilhões de fora do templo...
Então, eu já estava farto dessa... Eu notava que, de alguma maneira, com minha presença estava convalidando essa..., sim? Bem, então, disse: pronto, acabou. Já não vou mais a uma missa, pronto!
E chego à esquina, na rua, e um senhor estava a vender o seu jornal, um jornal; e no jornal, a grande manchete dizia: “Chega ao País um Arcebispo que está a estragar o coração do Papa”... “Monsenhor Lefebvre”
Eu havia ouvido falar algo de Monsenhor Lefebvre. E, enfim, sabia que havia um Bispo que queria guardar a Tradição e que os demais Bispos não gostavam dele; e que havia brigas com o Papa etc.
Em linhas gerais, pelo que eu percebia, o que este Bispo dizia me parecia lógico. Interessante! Dizia que havia que guardar as coisas sacras etc. Mas, me dizia: como este homem que está a defender a sacralidade da Igreja e todas essas coisas boas está a desobedecer ao Papa? E isto é o que...
Bom... Mas, disse, bom, me comprei um diário, um jornal e procurei onde ele ia dar uma palestra. Fui até o hotel, um hotel no centro de Buenos Aires. E, quando chego ao hotel, ocorre outra coisa... Vou entrar, e estava lotado de gente. E um dos que organizavam a vinda de Monsenhor Lefebvre me diz: “olha, não há lugar”
E que você faz quando você não tem... Chega a um lugar e vê as pessoas que estão... amontoadas... e... O mais normal é que você vá embora, não? E não...
Ai, eu recebo uma outra graça. Havia outro senhor que tampouco pôde entrar. Ficamos conversando: “veja, que lástima não pudemos entrar... tá bom, tá bom...”. E atravessamos a rua e ficamos de frente à porta do hotel falando de mil coisas com esse bom homem que eu nunca havia visto. E... falando de História argentina, enfim...
Mas, o mais normal... é o que eu me dizia: “porque eu fiquei aqui neste lugar?” Porque, o mais normal, se você não encontra um lugar vai embora e se quiser falar com alguém, vai a um “café” e se senta a tomar um café e fala com essa pessoa... Não, nós ficamos uma hora e meia ou mais... Até que, de repente, bum, vemos que começa a sair o pessoal. E ficamos olhando, assim, “curiosando”, a ver... E, de repente, pumba, saiu Monsenhor!
Eu nunca vi uma pessoa que irradie tanta paz! E um homem que, vejam, andava pelas ruas e via suas fotos, e o tratavam como ao maior criminal de guerra, e ao homem que estava estragando a Igreja, e ao homem que estava esmagando o coração do Papa... uhhh E desde o último verme da Igreja até o Papa, todo mundo o xingava a este homem. E ele estava... com uma tranquilidade de espírito... Eu fiquei espantado. Porque, atentos, uma coisa é falar, outra coisa é que eu amanhã ponha suas fotos na rua, faça pichações no muro contra você... Claro... você pode ser o mais inocente do mundo, mas isso te revolta!... É normal...
Ele estava com uma tranquilidade de espírito... Porque? Claro, depois que entendi: ele sabia perfeitamente que estava fazendo a vontade de Deus. Estava fazendo seu trabalho de Bispo Católico.
Eu fiquei como petrificado quando o vi. Ele nos abençoou. Colocaram em um carro e, bum, o levaram embora. E fiquei assim... Bom.
E... eu não queria que isso fosse uma impressão. Como alguém conhece alguém que vê no cinema ou na televisão: “ah! Eu vi Fulano”... Eu não quis ter essa única impressão. Então, fui procurar o rapaz que me havia dito que não podia entrar que estava dando voltas, enfim... E digo: “olha, o que disse Monsenhor? Digo, ele escreveu algo?”... “Sim, sim, sim, mas... acaba de publicar um livro em tal livraria aí perto...”. Eu fui à livraria... E o livro se chama: “Um Bispo Fala”. Um livro pequeno...
Me pus a ler o livreto era uma terça-feira. Na quinta-feira à noite estava acabando o livro.
E, quando eu fechei o livro, disse: se eu digo que Monsenhor Lefebvre está equivocado... eu minto para mim mesmo.
Porque?... Porque tudo o que Monsenhor Lefebvre denunciava era o que eu estava vendo, e o que estava sofrendo. E estava vendo as consequências que trazia, entre outras coisas,
a aceitação do Concílio Vaticano II, a prática da missa nova etc. etc.
E, então, a partir dai procurei, comprei outro jornal, vi onde (ele) ia dar uma Missa... Teve que a dar muito longe porque não o deixavam dar Missas dentro da Capital Federal. Enfim... Um aborrecimento. Uma perseguição terrível. E a Missa era uma cidade que se chama Hurlingham, nos arredores de Buenos Aires. E... em um jardim... Vamos supor que tinha um teto... E as pessoas... Havia um ... depois um caminho. As pessoas estavam no jardim. E os fiéis haviam preparado, aqui, um altar. Digamos que não era precisamente uma catedral gótica onde estava a dar a Missa. Era tudo muito rústico. E havia umas seiscentas pessoas.
E... começou a Missa. E para culminar era Missa cantada. Latim... Era minha primeira Missa cantada que eu ouvia. Eu me lembrava de quando era pequeno havia um Padre velho que dava a Missa de costas, mas eu não... enfim... Quase, quase diria que foi minha primeira Missa em latim.
E eu tinha de minha irmã, que me havia dado de presente, um missal desses... Como este... Quando fiz, não sei se oito anos ou nove anos, minha irmã me disse: “Olha, encontrei isto em uma livraria; isto já não se faz mais. Guarde-o como um livro de orações”. E eu o tinha o livro de orações. O usava para ver o santo do dia, enfim... E eu havia visto que no meio ele tinha a Missa em latim e espanhol. Então, levei o livro, pensando que ia usar o livro. É claro que quando um vai a uma Missa pela primeira vez, ainda por cima cantada... Você está no Kyrie Eleison e eles estão não sei onde; e estavam cantando o Glória e eu pensei que já estavam no Sanctus, enfim...
Peguei, fechei o livro e me pus a olhar a Missa. E é sempre algo que eu lhes recomendo: não se preocupem com entender ou com tratar de seguir...
Contemplem a Missa.
A Missa é um Mistério, onde se repete o Sacrifício do altar...
A Missa tem um atrativo especial. Ou seja... você... Você sabe... Eu percebia, nesta primeira Missa... Pela primeira vez... Eu tinha, não me lembro, se vinte ou vinte dois anos... Pela primeira vez. E isso que eu ia todos os domingos na missa. Pela primeira vez eu percebi que a Missa... é um Mistério. Que a Missa me transcendia. Ou seja, você se dá conta de que há algo que aí, que lhe ultrapassa, humanamente falando.
E quando as pessoas dizem: “Ah! Eu não entendi a Missa”. Está para isso! Para que você não a entenda! Porque é um Mistério.
Como se pode explicar às pessoas que este senhor que está aqui, revestido de Sacerdote, vai dizer algumas palavras e todo um Deus vai descer do Céu ao altar? Que este senhor depois vai dar a Comunhão e este Ser que está na Comunhão é um (Ser) Infinito... E os que O recebem são finitos... E não são esmagados, não morrem, não se aniquilam...
Tudo é Mistério. Tudo é sacro.
Claro... Estas coisas... (uff) A mim me deram vertigem... E aí você se dá conta, quando existe uma Missa Tridentina, e você começa a saborear o Mistério. Você se dá conta de tudo que nos roubaram com a missa nova... Porque?
Você, quando entra, e me vê de costas, falando uma língua que não entende de maneira direta, você, ou qualquer um dos que estão aqui, diriam: “e este Padre, que está dizendo?”
E a língua latina estava também para isto: para preservar o Mistério. Você não entende o que eu estou dizendo. Sim, o entenderá lendo este ou lendo o Ordinário, porém este fato de não entender de maneira direta conserva, ajuda a conservar o Mistério da Missa.
Quando agora, por exemplo, se eu ponho uma mesinha aqui e fico de frente para vocês, e começo... e... “In nomine Patris”... enfim... E começo a falar em português. E você compreende o que estou dizendo. Você talvez diga: “Ah! Que linda! Esta missa eu a entendo”. E esse aí é o primeiro problema. Você nunca pode compreender a Missa. Porque? Porque é um Mistério.
É como se você dissesse que compreende a Santíssima Trindade.
A Santíssima Trindade é um Mistério!... Nem Santo Agostinho podia explicar o Mistério da Santíssima Trindade!
Então... Quando você racionalmente... E isso aconteceu com à maioria das pessoas: “Ah! Que lindo que mudaram a missa”. “Agora a entendemos!”... Aí mudou... Aí creram que compreendiam. E, ao crer que entendiam, pensaram que se colocavam a um nível... No mesmo nível com Deus. Porque se você compreende Deus: ou está doido ou é Deus. Um dos dois. E não somos deuses. Então, enlouquecemos de soberba, de pensar que o homem está no mesmo nível de Deus. E aí estragamos nossa Fé, porque começamos a racionalizar o que é Mistério.
Onde está o mérito da Fé? O mérito da Fé está em acreditar pelo simples fato de que Deus está nos revelando algo. Ele... Mas se eu digo: “Ah! Não! Agora eu O entendo, entendo a Missa”. Mentira. Perdido.
E o que aconteceu? Você crê que entende as coisas de Deus e está estragando a Missa.
Bem. E... isto é um breve resumo. Que mais?
(Continue a história, então... depois disso...)
(o que aconteceu em seguida?)
(padre...) (risadas) e depois?
Bom. Não... Depois disso... A mim me... Eu nunca havia tido vocação religiosa. Quando terminei o colégio, não sabia se ia estudar medicina veterinária, botânica... enfim qualquer coisa relacionada à Biologia. Mas, em minha vida, pensar ser Padre... nunca.
Eu estava para me casar com uma moça. Tinha tudo arrumadinho. Mais um ano, me formavam em Veterinária. Já tinha um lugar onde iria trabalhar muito bem... Tudo... certinho. Mas, claro, quando eu conheço a semelhante Sacerdote, Bispo... Aí começou a me... A mexer com as minhas ideias.
Eu noto que a Igreja está afundando, que a Igreja está se queimando com o Modernismo E eu, o que vou fazer? E eu me dou conta disso tudo. Eu, o que ia fazer? Eu ia casar e ter filhinhos e essas coisas? Quando Deus estava me mostrando a necessidade urgente de Sacerdotes?... Me parecia uma coisa muito mesquinha, o de pensar em mim, e não na Igreja.
E havia noites em que eu não podia dormir... Eu pensava, por exemplo: quantos doentes vão morrer sem Sacramentos só porque me ocorreu de casar-me e ter filhinhos?... Me parecia muito miserável de minha parte.
Então. Bom, vi que um dia estava nesse combate, até que um dia chegou ao 15 de outubro. Festa de Santa Teresa de Ávila. Lembro sempre. E nesse dia disse: “Vou à Missa”. Monsenhor havia deixado uns Padres aí em Buenos Aires. E fui à Missa... Sem nenhum ânimo de decidir nada. Fui à Missa. E pronto. E estava o Padre confessando, e (...). E no meio da confissão me ocorre dizer ao Padre: “Padre, vou entrar no Seminário”. E se, nesse momento, alguém me dissesse: “Cardozo, vá e puxa um barco”, eu ia e o puxava!... Sentia uma...
Hermoso relato Padre, quiera Dios bendecir su apostolado, a usted y a sus fieles.
ResponderExcluirP. Mauricio